quarta-feira, 12 de junho de 2013

POR QUE DEUS PERMITE O MAL?

Neste ensaio analiso o problema do mal na perspectiva teísta de Richard Swinburne no seu livro Será que Deus existe? Irei adicionar argumentos que fundamentam  os defendidos pelo filósofo e objetar os contra argumentos que venham a formar-se.
O mundo contém, pois muito mal. Um Deus onipotente poderia ter evitado este mal e sem dúvida que um Deus sumamente bom e onipotente o teria feito. Mas então, por que razão existe este mal? Não será a sua existência um forte indício contra a existência de Deus? Sê-lo sem dúvida a menos que possamos construir o que é conhecida por teodicéia, uma explicação da razão pela qual Deus terá permitido que o mal ocorra” [1]
Uma das grandes dificuldades que as religiões teístas enfrentam é como consolidar as propriedades divinas, ou seja, onipotência, onisciência, onipresença e suma bondade com a existência do mal. As injustiças, exclusão, miséria, fome, guerra, destruição, desastres naturais como terremotos e vulcões são realidades presentes na vida de todos. Qual seria o motivo pelo qual Deus permite o mal? Há vários males que Deus poderia, se quisesse, remover. Irei dividi-los.
Mal moral: por mal moral entendo como todo mal causado deliberamente pelos seres humanos ao fazerem o que não deviam, e também o mal constituído por essas ações deliberadas e faltas negligente. Ex: desigualdades, miséria, guerra.
Mal natural: por mal natural entendo como todo mal que não for deliberadamente produzido por seres humanos e que estes não permitam que aconteça por negligência. Ex: desastres naturais.
Começarei a argumentar primeiramente sobre o mal moral, tendo em vista que este exige maior atenção.Um dos argumentos para explicar o por que do mal moral é a prática de uma virtude moral, ou seja, sem a pobreza e a fome não seria possível à virtude  moral de Madre Tereza de Calcutá, sem as guerras e lutas não seria possível á virtude  moral dos heróis e dos santos, pessoas que se doam para o bem do próximo, que encontram na dor alheia motivo para total entrega e doação. O mal permite a existência do bem.
Certamente haverá pessoas que objetarão este argumento, alegando que seria injusto um Deus onipotente e sumamente bom usar a dor de uns para a prática de uma virtude maior de outros, mas vejamos, sem a existência destes males não teríamos responsabilidades, não teríamos méritos algum e nem evolução espiritual, além do mais uma das propriedades atribuídas a Deus segundo a concepção teísta é a onisciência, Deus sabe que no final tudo vai dar certo, que este mal existente não é comparável ao incomensurável bem que nos espera.
Outro argumento que defendo para explicar o mal moral é o livre arbítrio, que sobre minha percepção trata-se de escolhas livres e responsáveis que irão influenciar na minha vida, na dos outros e em grau menor na história da humanidade. Sou livre para fazer o que quero e o que acho melhor para mim. Posso escolher ir para faculdade amanhã ou ficar dormindo até mais tarde. Posso escolher se vou para missa ou não, posso até matar o leitor que está lendo este ensaio, pois sou livre e a cada momento estou optando por algo.
É justamente esta escolha livre e responsável, a porta de entrada para o mal moral.Através de nossa liberdade concedida por um Deus onipotente é que permito a existência do mal moral, ou seja, o mal é resultante de uma ação humana e não divina.
Quando Deus decidiu criar o ser humano como seres livres, fê-lo sabendo que não determinaria as suas ações e que não poderia saber que decisões poderiam vir a tomar em cada momento. Abdicando de determinar as suas ações e dando-lhes a escolha livre e responsável, criou condições para que o mal moral acontecesse. Não será de questionar a perfeição e suma bondade deste Deus defendida neste ensaio filosófico? Ora um Deus onipotente poderia criar um mundo sem males e sendo o livre arbítrio um argumento explicando a ocorrência do mal moral, um Deus que pode tudo poderia criar um mundo sem males e com pessoas livres e um Deus sumamente bom não quereria ver sua criatura sofrendo por um erro alheio. Mas Deus segundo a tese afirmada pelos teístas e neste ensaio não pode criar um mundo sem males e com pessoas livres. Então concluísse que Deus não é onipotente. Certo? Errado.
Primeiramente antes de objetar este contra argumento é preciso definir o conceito de onipotência, um ser onipotente é um ente que pode fazer tudo o que é logicamente possível, portanto Deus é onipotente, ele pode fazer e saber o que é logicamente possível, quando afirmo que Deus não pode criar um mundo sem males e com pessoas livres e tendo em vista que a natureza humana é boa, a escolha livre e responsável que a corrompe, não estou afirmando que se trata de um Deus fraco mas, por que as palavras um mundo sem males e com pessoas livres não descrevem nada que faça sentido, ou tenho um mundo sem males ou tenho pessoas livres, afirmar que Deus pode criar um mundo sem males e com pessoas livres é a mesma coisa que afirmar que algo é simultaneamente quadrado e redondo, ou seja, é logicamente impossível e quando afirmo algo logicamente impossível estou entrando em contradição, concluindo algo que não é verdadeiro.
Haverá pessoas que refutarão este argumento afirmando que se Deus é onipotente, ele pode fazer tudo, até o que é logicamente impossível, mas eu pergunto a você leitor. Se você fosse um detetive policial e estivesse investigando um crime que aconteceu em sua cidade e há duas suspeitas, uma delas em seus depoimentos se contradiz inúmeras vezes, afirmando num determinado momento por exemplo, que conhecia a vítima e no outro que nunca o viu na cidade, quase a mesma coisa que afirmar que algo é quadrado e redondo simultaneamente, não é verdade? Aposto que você balançou a cabeça, e a outra responde suas perguntas conscientemente e  não entra em paradoxo, em qual das duas você irá desconfiar mais?Em qual das duas está a maior probabilidade de ser o assassino? Com certeza a primeira, caso você não concorde é sinal de que você confia mais em uma pessoa que se contradiz do que uma que não se contradiz e isto é um grande erro que precisa ser corrigido urgentemente.
Ao afirmar que a onipotência divina consiste também em fazer o que é logicamente impossível, estou afirmando que Deus entra em contradição como o primeiro suspeita do crime dado no exemplo acima, e mais, afirmando que Deus entra em contradição estou negando a perfeição divina, jamais um ser perfeito e bom pode se contradizer, por que alguém que se contradiz está concluindo algo falso, e concluir algo falso é característica de um ser imperfeito.Logo Deus é onipotente, ele não se contradiz.
Continuo defendendo o argumento do livre arbítrio, afirmando que é preferível um mundo na qual sou livre, ou seja, tenho a capacidade de influenciar na minha vida e dos outros, tenho responsabilidade, ando com os próprios pés, mas estou cercado por uma realidade onde há males, do que um mundo na qual sou programado para fazer somente o bem, não tendo responsabilidade e nem livre arbítrio, pois se faço somente o bem não sou livre e além do mais sou como um boneco manipulado por um ventríloquo chamado Deus. Você concorda comigo? Ou pensa que um passarinho é feliz dentro de uma gaiola? Um pai que ama e quer a felicidade de seus filhos, vai dar o peixe a eles ou vai ensinar a pescar?
Muitas pessoas toleram o argumento do livre arbítrio como explicação da entrada do mal moral, mas os terremotos, vulcões,alguns tipos de doenças, o mal natural, que geram milhares de destruição e mortes, como explica-los?
O mal natural tem duas maneiras de operar por forma a dar aos seres humanos essas escolhas. Em primeiro lugar, a atuação das leis naturais, ao produzir os males, fornece ao ser humano o conhecimento de como originarem por si esses males,ou melhor, através do mesmo podemos presumir as conseqüências de nossas diferentes ações. Mas Deus em sua onipotência e bondade não poderia sussurrar aos nossos ouvidos em tempos a tempos, as diferentes conseqüências de nossas ações sem recorres a desastres naturais?Sim, porém este conhecimento revelado, inibiria profundamente a liberdade humana. Além do mais, se fossemos diretamente informados acerca das conseqüências das nossas ações, ficaríamos privados da possibilidade de escolher descobri-las através da experimentação e do trabalho cooperativo. Só os processos naturais dão aos homens o conhecimento dos efeitos das suas ações sem lhes inibir a liberdade, e se o mal tem de ser para eles uma possibilidade, eles  têm de saber como permitir a sua ocorrência.
A outra maneira segundo a qual o mal natural opera de maneira sem inibir a liberdade humana, consiste em tornar possíveis certos tipos de ação relacionados ao mal e entre os quais os seres humanos podem escolher. Aumentando-se assim o domínio de escolhas significativas, como exemplo a dor física. Este mal natural oferece ao homem escolhas, tais como, suportar a dor pacientemente ou lamentar a sua sorte, os amigos da vítima podem escolher em terem compaixão ou serem indiferentes. Não há garantia de que as nossas ações , em resposta á dor, serão benévolas, mas a dor dá-nos a oportunidade de realizar boas ações, de praticar atos heróicos.
Claro que seria loucura que Deus multiplicasse os males para oferecer oportunidades sem fim de atos heróicos, mas ter algumas oportunidades para desempenhar verdadeiros atos heróicos e para conseqüentemente formação do caráter é um benefício para a pessoa a quem essas oportunidades são dado. Os males naturais dão-nos o conhecimento para fazermos várias escolhas entre o bem e o mal e a oportunidade de desempenhar ações de tipos particularmente valiosos.
Contudo, a verdade é que o mal é mau e paga-se um preço substancial pelos bens do nosso mundo que ele torna possível. Deus não seria menos do que perfeitamente bom se tivesse antes criado um mundo sem dor nem sofrimentos e portanto sem os bens específicos que esses males tornam possíveis.
Concluo neste ensaio que é possível solucionar o problema da Teodicéia, através dos argumentos usados no texto acima, basta à humanidade ter consciência de que também  temos o poder de acabar com o mal existente, o poder também é nosso, capacidade esta, recebida de um Deus onipotente, onisciente, onipresente e sumamente bom.




[1] SWINBURNE, R.. Será que Deus existe? 1. ed. Lisboa: Gradiva, 1998, 109 p.

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