domingo, 16 de junho de 2013

personalismo_e_axiologia_seminario_pronto[1]
INTRODUÇÃO                   

            O problema da pessoa foi freqüentemente debatido na história da filosofia, mas nunca como hoje esteve ao centro das atenções dos estudiosos. Atualmente, por ele se interessam quase todos. Antes de tudo, os filósofos, alguns dos quais fizeram da pessoa o epicentro das suas reflexões, dando origem a uma visão filosófica que recebeu o nome de personalismo. Dele se ocupam os teólogos, particularmente com referência a Cristo. O problema da pessoa é além disso estudado pelos psicólogos, pelos psicanalistas, pelos educadores, pelos políticos, pelos juristas. Nos conflitos ideológicos e políticos com freqüência se toma o respeito aos direitos da pessoa humana como medida para determinar a bondade de uma ideologia ou de um sistema político.
            Os estudiosos estão de acordo em reconhecer que o conceito de pessoa é estranho à filosofia grega. Com efeito, o conceito de pessoa acentua o singular, o individuo, o concreto, enquanto a filosofia grega dá importância só ao universal, ao ideal, ao abstrato. O singular, o indivíduo, o concreto para o pensamento grego tem valor provisório, como momentânea fenomenização da espécie universal, ou então como instante transitório do grande ciclo, que tudo compreende da história.
            O primeiro exame rigoroso deste conceito foi realizado por Agostinho. A sua intenção é de encontrar um termo que se possa aplicar distintamente ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo sem correr, de uma parte, o risco de fazer deles três deuses e, de outra parte, sem dissolver a sua individualidade. Ele mostra que os termos essência e substância não têm dupla virtude. Ela, pelo contrario, pertence ao termo grego “hipóstase” e ao seu correlativo latino “pessoa”, o qual não significa uma espécie, mas algo de singular e de individual.
            Uma memorável definição de pessoa, sem duvida a mais célebre de todas, muito completa e precisa do ponto de vista ontológico, deixou-nos Severino Boécio. Ela diz: “a pessoa é uma substância individual de natureza racional”.
            Para Santo Tomás, a pessoa significa o que de mais nobre há no universo, isto é, o subsistente de uma natureza racional. A pessoa especifica São Tomás, goza de uma tripla incomunicabilidade: antes de tudo, o individuo que é pessoa não pode comunicar-se com outras coisas como parte, sendo um todo completo; depois, não pode comunicar-se com o universal se comunica com os singulares, porquanto a pessoa é algo de subsistente; enfim, não pode comunicar-se como algo de assumível porque o que é assumível ocorre na personalidade do assumente e não há mais uma personalidade própria. Por motivo da incomunicabilidade, a pessoa distingue-se nitidamente tanto da essência quanto da natureza.
     Porém, como já foi observado, mesmo não sendo nunca desprezado pelo pensamento patrístico e escolástico, o problema da pessoa adquiriu uma importância  totalmente singular durante o século XX, sobretudo por mérito dos seguintes autores: Renouvier, Mounier, Buber, Scheler, Marcel, Nédoncelle, Ricoeur, Heidegger, Brightman entre outros.
     Para Renouvier, o caráter específico da pessoa humana é o conhecimento, porém não se trata de um conhecimento que tenha caráter criativo, como queriam os idealistas, e nem mesmo caráter fenomênico , como afirmava Kant. Ela é pelo contrário, aberta para o mundo e para o absoluto e assim ela leva o homem a reconhecer a existência de uma pessoa primeira e criadora. O reconhecimento de sua existência impõe-se ao nosso assentimento por motivo da unidade harmônica das leis que regulam o entendimento dos seres inteligentes e regem o mundo, oferecido aos seres inteligentes como representação. A hipótese de um mundo existente e por si, eterno, não é mais a de um mundo que possa dar razão a si mesmo da sua existência.
     Sobre a base erguida por Renouvier se colocaram muitos outros autores franceses, entre os quais recordamos Mounier, Marcel, Nédoncelle e Ricouer.














Emmanuel Mounier

Nascido em Grenoble em 1905, Mounier, depois de estudar filosofia em Jacques Chevalier em Grenoble, prosseguiu seus estudos em Sorbonne, em Paris, onde em 1928, no exame de habilitação, obteve o segundo lugar, ficando atrás de Raimond Aron. Passou a ensinar filosofia em escolas particulares.
No início da  década de 30 teve seu primeiro encontro com Jacques Maritain. Também é nessa época que encontra Gabriel Marcel e Berdjajev.
Em 1932, depois de vários encontros preparatórios, Mounier publicou sua revista “Esprit”. Em 1935, reuniu seus principais escritos publicados em “Esprit” no livro Revoluções personalistas e comunitárias. Desse mesmo ano é o ensaio Da propriedade capitalista à propriedade humana, escrito esse que delineia o programa social do movimento personalista. Ainda neste mesmo ano casa-se com Henriette Leclercq, passando a viver em Bruxelas.
Em 1939, foi convocado para o serviço militar e feito prisioneiro pelos alemães. Libertado em 1940 e  1941com muita dificuldade publica novamente sua revista “Esprit”. Contrario ao governo de Pétain foi preso três vezes, e depois de absolvido, passa a viver com nome falso até o fim da guerra, quando retorna a Paris e retoma a publicação de “Esprit”. O período de após-guerra foi de intensa atividade para Mounier: publicou o Tratado do cárcere, Liberdade condicional e Introdução ao Existencialismo, todos em 1946. Em 1947 publica O que é o personalismo?, e em 1949 O personalismo.

Pensamento de Mounier

Mounier condensou o pensamento de Renouvier num pequeno volume que traz o mesmo titulo da obra de Renouvier, Le Personalisme (1949). As teses principais que ele desenvolver nesse escrito são as seguintes:
1. Há antes de tudo a estrutura psicofísica do homem, que Mounier chama “existência incorporada”, “existência encarnada”, para evidenciar que entre sujeito e corpo há uma profunda unidade: eles dão origem a única e mesma experiência. Não posso pensar sem ser e ser sem o meu corpo. Por meio dele estou exposto a mim mesmo, ao mundo, aos outros, por seu meio eu fujo da solidão de um pensamento.
2. Transcendência da pessoa com relação à natureza: o homem caracteriza-se por uma dupla capacidade de destacar-se da natureza, é o único que conhece este universo que o engole e o único que o transforma, ainda que seja o menos aguerrido e o menos potente de todos os grandes seres animados.
3. Abertura em direção aos outros e em direção ao mundo através da comunicação. O primeiro movimento que revela um ser humano na primeira infância é um movimento em direção aos outros. A criança dos seis aos doze meses, saindo de sua vida vegetativa, descobre-se a si mesma nos outros. a primeira experiência da pessoa é a experiência da segunda pessoa, o tu e, portanto, o nós vem antes do eu, ou pelo menos o acompanham.
4. Dinamismo: a vida da pessoa é a busca até a morte de uma unidade pressentida, cobiçada e que não se realiza nunca.
5. Vocação: cada pessoa tem um significado tal que não pode ser substituída no lugar que ocupa no universo das pessoas.
6. Liberdade: essa, porém, não é ligada indissoluvelmente a o ser pessoal como uma condenação, mas lhe é proposta como um dom: ele pode aceita-la ou rejeita-la.
A pessoa para Mounier, não pode ser tornada um objeto, ela está encarnada em um corpo e na história, sendo que ela por natureza é comunitária. O ato do amor é a mais forte certeza do homem, o irrefutável cogito existencial: amo, logo, o sr existe e a vida merece ser vivida.
Dessas premissas deriva que em todo problema pratico é preciso antes de mais nada encontrar a solução no plano das infraestruturas biológicas e econômicas, se quisermos que as decisões tomadas em outros planos sem vitais. Seu uma criança é preguiçosa e indolente, de modo grave, diz Mounier, então é necessário examinar as suas glândulas interiores antes de ralhar com ela. E, se quisermos que a massa não fique irrequieta, será bom dar uma olhada nas folhas de pagamento antes de condenar o materialismo.
Entretanto, Mounier reconhece que a solução biológica ou econômica para a solução de um problema humano é um pouco frágil e incompleta, se não se considerar a dimensão espiritual.
Mounier considera o individualismo como o pior inimigo do personalismo. Nisso podemos notar sua posição contrária ao marxismo: “mudai a economia que o homem será salvo” e ao moralismo: “mudai o homem que as sociedades se curarão”. Para Mounier, o individualismo é um sistema de costumes, idéias e instituições  que organiza o individuo com base em atitude de isolamento e defesa. Ao contrário, o para o personalismo, a pessoa é uma presença voltada para o mundo e para as outras pessoas. As outras pessoas não  me limitam, mas permitem-me ser e desenvolver. A pessoa só existe enquanto voltada para os outros, só se conhece através dos outros, só se encontra nos outros. Quando minha comunicação se reduz ou se corrompe, então perco-me a mim mesmo.

A pessoa contra o capitalismo e contra o marxismo

No capitalismo, afirma Mounier, o dinheiro transforma-se em tirania. O capitalismo é inimigo do trabalho digno da pessoa, inimigo da propriedade privada,já que priva o assalariado de seu lucro legítimo. O capitalismo, para Mounier é um parasita de dupla forma: um contra a natureza, baseado no dinheiro, e outro contra o homem, baseado no trabalho. Na propriedade para Mounier, a exemplo do pensamento cristão medieval, deve haver  uma gestão pessoal e uso comum dos bens. Ele defendia uma espécie de economia pluralista, onde havia a organização de pessoas responsáveis (pessoas coletivas), que criem formas de trabalho conforme as condições necessárias.
Porém, apesar de ser um critico do capitalismo, Mounier não caiu nos braços do marxismo. Apesar de reconhecer que o marxismo tem perspicácia em muitas análises, como por exemplo, a sua dedicação à causa dos mais fracos e anseio pela justiça, Mounier rejeita-o por achar que o marxismo é um filho rebelde do capitalismo, mas apesar disso é seu filho, pois o marxismo afirma o primado da matéria. Além disso, Mounier diz que o marxismo substitui o capitalismo por outro capitalismo, o capitalismo de Estado. O marxismo também, para Mounier, professa o otimismo do homem coletivo que implica o pessimismo radical da pessoa. Além disso Mounier o rejeita, pois para ele, o marxismo, no plano histórico, levou a regimes totalitários e não é inimaginável que, a um imperialismo capitalista, se suceda um imperialismo socialista.



A nova sociedade

A sociedade pregada por Mounier é a precisamente a sociedade personalista e comunista. É um tipo de sociedade distante das agregações de indivíduos que correspondem à massa, à sociedade fascista (com seu chefe carismático e a sua febre mística), à sociedade fechada de tipo organicista-biológico ou ainda à sociedade baseada no direito (ou seja, a sociedade do jusnaturalismo iluminista, pois o contrato que está em sua base não é relação interpessoal, e sim muito mais um compromisso de egoísmo). A sociedade personalista se baseia no amor, na comunhão, onde a pessoa chama a si e assume o destino, o sofrimento, a alegria e o dever dos outros.
Mounier sempre foi defensor dos direitos da mulher, adversário de toda a forma de racismo e xenofobia, propagador de uma escola e uma educação que não fosse submissa ao Estado, e defensor das autonomias locais. Com a crise da sociedade capitalista, ele via a nova sociedade ir abrindo caminho.
Mounier pensava em uma sociedade socialista, porém, nem por isso, aprovando todas as disposições que possam se apresentadas em seu nome, sendo que este é um socialismo sonolento, e acolá está desviado ou pervertido sob os arreios burocráticos e policialescos. O socialismo de Mounier é um socialismo que foi obra dos próprios operários, formando uma sociedade onde o Estado exista para o homem e não o homem para o Estado. Contra a idéia anárquica e liberal do otimismo da pessoa e do pessimismo do poder e contra a idéia totalitária do pessimismo da pessoa e do otimismo do poder, Mounier pensa em um poder baseado exclusivamente nas finalidades últimas da pessoa, em um poder que deve respeitar e encorajar a pessoa. Essa exigência requer um estatuto publico da pessoa e uma limitação constitucional dos poderes do Estado. A defesa personalista da pessoa se expressou por meio da idéia de um Estado pluralista que seja dotado de poderes divididos e contrapostos, a fim de se garantirem mutuamente contra o abuso. Esse seria o Estado mais próximo a um Estado a serviço da pessoa.


Gabriel Marcel

È um grande expoente do personalismo. A sua contribuição mais significativa a esta concepção é de ordem metodológica. A pessoa humana, sustenta Marcel, não pode ser estudada com os instrumentos da ciência, com a investigação objetiva. A pessoa humana não é um problema, mas um mistério, por isso se deve buscar a sua compreensão na interrogação metafísica. Se nos aproximamos da pessoa humana pela via cientifica, ela é reduzida a em Ele, objeto ou coisa. Para respeitar a sua responsabilidade, para trata-la como pessoa, é necessário aproximar-se dela como de um tu e isto acontece na interrogação, no diálogo, no amor.
Também de maneira a dar uma melhor compreensão da pessoa humana, Marcel disse várias coisas interessantes, entre as quais nos parece oportuno recordar as seguintes. Ele diz que a comunicabilidade em que geralmente os filósofos modernos fazem consistir a personalidade deve ser entendida sobretudo como disponibilidade, uma atitude a oferecer-se ao que se apresenta e a vincular-se em virtude deste dom. Marcel faz sua também a terminologia de Mounier, o qual, como se viu, define o homem como um ser encarnado. Mas Marcel não entende esse conceito em sentido estático, mas dinâmico. Quando fala de ser encarnado, não se refere a uma alma, um espírito encarnado em um corpo, mas à pessoa humana encarnada no agir. Para ele. O Eu torna-se pessoa somente na medida em que se empenha na ação e assume a responsabilidade dos próprios atos.

Maurice Nédoncelle

No seio do personalismo, ele tem uma problemática própria e uma metodologia que se inspira proximamente à de Marcel. Para estuda a pessoa, ele se vale de um método complexo que une a análise reflexiva e a intuição, a descrição fenomenológica e a compreensão metafísica. O ponto de partida de seu estudo é a relação Eu-Tu, que, ao seu juízo, constitui o fato primitivo,a experiência fundamental e fundadora, à qual a consciência não pode subtrair-se sem tender a suprimir-se. A consciência de si é solidária a um outro sujeito, um tu.  Sujeito- objeto supõe a dualidade eu-tu. Esta é bilateral, recíproca. Cada percepção de outra pessoa enquanto pessoa implica numa reciprocidade e intersubjetividade que tende a resistir a toda a força centrífuga. Comunhão, consciência colegial e vontade de promoção mútua, de estabelecimento na ordem do sujeitos para achar o próprio desenvolvimento em uma perspectiva universal (que tem como centro e fundamento o Tu por excelência ou seja, Deus), este é o amor e esta é a natureza da pessoa revelada pelo amor.
A pessoa, para aceder a si mesma, para se personificar, deve superar os obstáculos da natureza e das diversas formas do impessoal e do antipessoal (ou seja, o mal). A pessoa não se constrói sem risco: ela pode fazer-se mas também desfazer-se e, sem a intervenção de um Deus-caridade, a segunda probabilidade é mais forte que a primeira.

Paul Ricoeur

Outro expoente do personalismo espiritualista francês é Paul Ricoeur. Ele, elaborou uma interpretação do homem partindo do conceito de falibilidade. Em tal perspectiva, ele nos oferece algumas interessantes considerações relativas à pessoa, mostrando bem o seu caráter fortemente dinâmico. A pessoa, diz Ricouer, não é ainda uma plenitude experimentada, é um “a-ser”. A pessoa é “a-ser”, a única maneira de alcança-la é “faze-la ser”. Ricouer concebe a pessoa como um projeto de humanidade, a qual por sua vez é assim definida: “a humanidade é o modo de ser sobre o qual deve regular-se cada aparição empírica do que nós chamamos ser humano”. Através da forma da pessoa, proponho-me uma síntese deste gênero: a de um fim da minha ação que seja ao mesmo tempo uma existência. um fim, isto é, um termo ao qual são subordinados todos os meios e todos os cálculos de meios, ou melhor, um fim em si cujo valor não seja subordinado a mais nada e, ao mesmo tempo, uma existência que é constatada, ou melhor, uma presença com a qual se entra  em ralação de compreensão recíproca, de troca, de trabalho, de sociedade.
Além da França, o personalismo encontrou validos seguidores na Alemanha e nos Estados Unidos.


Martin Buber

Martin Buber ilustrou a originalidade da pessoa contrapondo a relação que o homem tem com as coisas (Ich-Es=eu-isso) à relação que ele tem com os outros (Ich-Du= eu-tu). Enquanto o primeiro assume o caráter de monopólio, o segundo tem essencialmente o caráter de diálogo. Há, porém, também outros aspectos que distinguem os dois diferentes tipos de relação, dos quais os mais importantes são, para o Ich-Es, a experimentação, a objetividade, a utilização, a posse, a fatalidade, o arbítrio, e, para o Ich-Du, o encontro, a presença, o amor, o destino, a liberdade, o ser. Na estrutura Ich-Es, o homem vive nas coisas, altera-as, usa-as, governa-as, possui-as e quando ele se comporta desse modo para com os seus semelhantes, também Ele e Ela tornam-se uma coisa, uma “coisa-pessoa”, de que ele dispõe como quer. A pessoa não é mais uma pessoa para mim, mas é como uma coisa. É verdadeiramente homem e, portanto, também pessoa aquele que se interessa pelo outro de modo tal que compreenda e respeite completamente o seu eu: Eu tenho origem na minha relação com o Tu: quando me torno Eu, então digo Tu.




Martin Heidegger

Um estudo excepcional do homem foi realizado, como sabemos, por Martin Heidegger. Dele resulta que o homem é essencialmente Dasein: um ser-aí, ser- aqui, um ser sistematicamente fora de si mesmo. A sua essência consiste decidamente na exsistência, ou seja, na transcendência. Ademais, por essa dissolução da essência humana na existência (que já comporta a exclusão da interpretação tradicional da pessoa em termos de substância), a antropologia de Heidegger caracteriza-se pela superação da oposição entre sujeito e objeto. O homem não é um sujeito que se acha diante de um mundo de objetos, mas um Eu e é precisamente enquanto Eu que ele torna possível o constituir-se a dualidade sujeito-objeto. Para Heidegger o Eu, a pessoa, tem um valor ontológico, primordial, graças à relação singular que ele tem com o Ser: é o artífice do seu aparecer, do seu fenomenalizar-se, e isso acontece na medida em que o homem toma consciência das suas possibilidades e as traduz em ato, inclusive a sua última possibilidade, a morte.
Nos Estados Unidos, o personalismo teve muitos insignes defensores. Basta  citar os nomes de Royce, Connel Brightman entre outros.


Edgar Sheffield Brightman

No que concerne à definição de pessoa, Brightman exclui que se possa adquiri-la recorrendo ao método experimental e indutivo. De fato, este mesmo método pressupõe, entre os outros princípios metafísicos, a existência de um experimentador, vale dizer, de um eu pessoal, que possui identidade pessoal através do curso da experimentação. Portanto, se se quer obter o conceito de pessoa, deve-se por de parte a psicologia cientifica de tipo experimental e substituí-la pela que é chamada “Self-Psychology” a qual deve ser, por sua vez, integrada à metafísica.
Uma primeira aproximação da definição de pessoa se tem quando se começa a distinguir entre o conceito de si e o conceito de pessoa. Segundo Brightman a palavra si vale para qualquer consciência, por simples ou complexa eu ela seja, enquanto a palavra pessoa vale para um si que é potencialmente autoconsciente, racional e ideal. Ou seja, no caso em que um si é capaz de refletir sobre si mesmo como um si, de racionar, de reconhecer fins ideais à luz dos quais está em condições de julgar as próprias ações, então podemos chamá-lo uma pessoa.
Rejeitando explicitamente as teorias epifenomenalistas, analíticas e substanciais do eu pessoal. Brightman denominou a sua concepção de “teoria orgânica”. Segundo tal teoria, o eu pessoal é um todo vivente de experiências isoladas do todo e cuja natureza é ser consciente como um todo. Esta concepção reconhece a ação recíproca entre a personalidade e o organismo corpóreo e de tal modo acha uma parte de verdade no epifenomenalismo, insiste na necessidade da analise (com o fim de compreender o eu) mas integra a analise mediante sinopse; concede ao substancialismo o direito de procurar a unidade mas o tem por errado quando afirma uma unidade não empírica.
O traço mais característico da personalidade, segundo Brightman, é a autotranscendência. Esta se evidencia em todos em todos os níveis: espacial, temporal, cognitivo, operativo, etc. Esta transcendência não diz respeito apenas à espera da consciência mas também à da existência: na autotranscendência a pessoa se eleva a um nível mais alto de existência. Brightman chama espírito essa dimensão da personalidade que consiste  na realização dos mais elevados ideais pessoais mediante o exercício do poder pessoal. O espírito é definido como experiência pessoal, consciente, nobre, potente, corajosa, livre, racional. O espírito refere-se aos aspectos ideais da personalidade e, especialmente, à realização atual dos valores potenciais de uma pessoa. Em um sentido, portanto, o espírito é uma qualidade de experiência que a pessoa realiza. Em um outro sentido, porém, é a potencialidade das pessoas, e esta potencialidade é interpretada por Brightman como um campo de escolhas tornando possível ao homem pelo plano de Deus. Eis, portanto, que a autotranscendência da personalidade dá testemunho a um mundo que está além do eu pessoal e da sua experiência imediata.






AXIOLOGIA

Axiologia vem do grego axis e quer dizer precioso, valioso. E o eixo que orienta o comportamento, a morał do homem. A filosofia até o século XIX não empregava o termo "valor" no sentido em que é atualmente usado, mas desde os seus primórdios sua realidade. Sendo que o primeiro pensador é certamente Sócrates. Alguns outros filósofos puseram-se indiretamente a pensar a questão dos valores, por isso nos deteremos mais sobre os dois maiores pensadores da Axiologia, a saber, Max Scheler e Nicolai Hartmann. As características dessa que também e chamada de Teoria dos valores..
A Axiologia surge com o intuito de tornar filosófico o discurso acerca dos valores, no intuito de substituir a Ética e a Metafísica quando estas eram usadas como fundamentos no entendimento dos valores.


noção, origem e CARACTERÍSTICAS

A axiologia ou Teoria dos valores tem seus fundamentos próximos a ética de Brentano e na fenomenologia. Sendo que os discípulos imediatos de Brentano foram os primeiros a se ocuparem filosoficamente do problema do valor, Meinong e Von Ehrenfels.
Depois disso, a teoria dos valores teve urn desenvolvimento magnífico nos grandes pensadores alemães: Max Scheler e Nicolai Hartmann. A axiologia também chamada teoria geral do valor, e intencionada pela filosofia a partir dos finais do século XIX. Contudo, surge apenas no século passado, a partir de outros campos do saber. Por volta do ano 1900, na Alemanha e do ano 1910, na Inglaterra e na América, as teorias do valor aparecem em primeiro plano. Esses primeiros traços da axiologia começam a se desenvolver ligados ao ensino universitário de filosofia, aparecem também na Franca e na Bélgica.
A acepção da palavra axiologia é relativamente recente na historia da filosofia, mas o tema do valor (do grego, aquilo que é precioso) é bastante antigo. Pode se chamar de valor tudo aquilo que faz o objęto de uma atitude de adesão ou de recusa ou ainda de um juízo critico. Em princípio, a axiologia ocupa-se de todos os modos pelos quais se toma posição a favor ou contra uma coisa, ou quando a podemos submeter a um juízo critico. A Axiologia se ocupa na interrogação acerca dos valores que e múltipla: que são os valores? Que espécie de ser lhes corresponde? Qual a hierarquia dos valores? Entre outras. As respostas a esse tipo de questão quase sempre são buscadas na Ética e na Metafísica.
O conceito de valor não pode ser unilateralmente definido. Pode ser clarificado, mostrando-se os seus complexos conteúdos, como fizeram alguns autores.



BRENTANO

Para Brentano, o amor justo É o amor evidente que leva em si mesmo a razão da sua justiça. Um objeto é digno de ser amado com amor justo quando obriga a reconhecer essa autêntica qualidade de se exigir ser amado. São os momentos que antecedem o surgimento da axiologia. Quando eu prefiro uma coisa é porque vejo que essa coisa tem valor, é valiosa. Nesse caso, os valores são algo que as coisas possuem e que exercem sobre nos urna estranha pressão; não se limitam a estar ai, a ser apreendidos, mas obrigam-nos a estimá-los, a valorizá-los. Posso ver urna coisa boa e não a procurar; mas o que não posso deixar e de estimá-la. Valor é aquilo, pois, que as coisas têm e nos obrigam a estimá-Ias.
Assim, o valor não se constitui como algo subjetivo, mas é a bondade apreendida no objęto que o torna valoroso para o sujeito. Contudo, não são somente os objetos existentes que possuem valor, os ideais como a justiça perfeita, o saber total, a saúde plena, constituem na verdade aquilo que mais estimamos que mais possuem valor, os quais são inexistentes.
Valorizar não é dar valor, mas reconhecer o valor que a coisa tem. Há uma distinção entre o valor e a coisa valiosa. As coisas têm valores distintos e em graus diferentes. O valor é uma qualidade das coisas, não a própria coisa. As coisas valiosas da-se o nome de bens. Valor também não é uma qualidade real de um objęto. Os valores apresentam, primeiramente, polaridade, isto é, são necessariamente positivos ou negativos.
Outra característica dos valores é que eles possuem matéria, um conteúdo peculiar. Os valores classificam-se em úteis (capaz-incapaz, abundante-escasso), vitais (são-enfermo, forte-débil, seleto-vulgar), intelectuais (verdade-erro, evidente-provável), morais (bom-mau, justo-injusto), esteticos (belo-feio, elegante-deselegante), religiosos (santo-profano), etc., em todos os casos seguidos a dupla forma polar do positivo e do negativo.
Cada época tem urna sensibilidade para certos valores.


max scheler

             
          Na Alemanha um dos maiores representantes da Axiologia foi Max Scheler. Max Ferdinand Scheler, nasceu em Munique, Alemanha, em 1875. Influído primeiramente por Eucken, aderiu depois a Fenomenologia figurando como um dos colaboradores iniciais do Anuário editado por Husserl a partir de 1913. Ele confirma todas as teses típicas do personalismo: o primado da individualidade com relação à universalidade, isto é, do concreto com relação ao abstrato, a irredutibilidade da pessoa à categoria de substancia e a inaplicabilidade das técnicas científicas ao estudo da pessoa.
Antes de tudo, Scheler afasta o conceito clássico que define a pessoa como natureza racional, porquanto, para ele, segundo tal o conceito de ser pessoa não é outro e se exaure no representar um ponto de partida X para uma vontade racional ou atividade prática, racional. O que coerentemente deriva disso não é autonomia, mas logomaquia, ou melhor, heteronomia da pessoa. Tal desenvolvimento do conceito racionalista da pessoa é evidente já em Fichte e ainda mais em Hegel. De fato, para um e outro, a pessoa torna-se finalmente, apenas, o indiferente lugar de passagem para uma atividade impessoal da razão.
Para Scheler a pessoa é antes a unidade, imediatamente vivida pelo vivente espiritual, e não uma coisa pensada atrás e fora do imediatamente vivido. A pessoa é a unidade essencial concreta do ser de atos de essência diferentes, que em si mesmo precede todas as diferenças de atos (e em particular também a diferença de percepção externa e interna, do querer interior e do exterior sentir, amar, odiar, etc.). O ser pessoa funda todos os diversos atos.
Portanto a pessoa não está fundada na conexão dos atos. Scheler, embora refutando a concepção da pessoa como uma substância, porque para ele substância significa uma unidade estática, não está todavia disposto a fazer dela um agregado, uma associação de atos. Para Scheler, a pessoa não é idêntica ao eu, entendido como consciência ou a percepção transcendental, condição da unificação da experiência e nem mesmo se identifica com o eu individual que é objeto de a percepção interior. A pessoa é o ser concreto, pelo qual os atos são concretamente distintos como essências concretas das essências abstratas; ela os contém em uma unidade viva para a qual em cada ato se exprime toda a pessoa e varia em cada ato como totalidade. Implica em si a percepção interna e externa, a consciência do corpo, o amar e o odiar, o sentir, o querer, o julgar, o recordar, etc. Em uma palavra, a pessoa é a totalidade em ato que exprime a unidade ontológica do homem. Disso se pode entender porque Scheler afirma que a pessoa não pode ser objetivada, nem objetivamente conhecida, é pelo contrário, transcendentalmente vivida. Pode-se também entender porque como unidade total vivida e vivente a pessoa não pode ser identificada como uma substância além dos atos que dela brotariam: tal substância é uma essência de modo abstrato, não é a totalidade viva que unifica os atos.
Sua obra principal, “O formalismo na ética e a matéria dos valores éticos” (1913-1916), aparecida em primeira edição no Anuário de Husserl, documenta desde o título, uma das características do procedimento de Scheler, a maneira dialogal de seu pensamento. Não se limita em expor e fundamentar uma ética material (isto é, dos conteúdos éticos, não das meras formas éticas), senão que desenvolve suas idéias levando de frente uma crítica ao formalismo ético de Kant; mas tanto como contra o formalismo Kantiano, combate contra o empirismo ético, contra todo relativismo e psicologismo. Porém o ético é o ponto central do livro, se encaixando ainda numa vasta e profunda doutrina geral dos valores.
A vigilância constante do pensamento e o permanente contato com os fenômenos explicam a profunda originalidade de suas idéias e a atmosfera espirituał que sabia criar ao redor das situações mais simples e banais. Tinha o dom de colocar o espírito em contato vivo e direto com as coisas, o que deu um sentido realista a sua filosofia, avessa ao subjetivismo idealista tão presente na tradição alemã.
A abertura ao mundo, que considerava o atributo essencial do homem, manifesta a necessidade que sentia de respeitar a plenitude e a diversidade do universo. O sentido duramente ontotógico e realista de sua postura filosófica, oposta a hostilidade radical ao mundo que marca o pensamento moderno, tem a mesma origem. Para ele, a experiência do conhecimento estava acima da posse da verdade, o que explica a amplitude de sua curiosidade e receptividade em relação a todos os movimentos culturais e ao progresso científico nos mais diversos domínios. Manteve-se permanentemente atento a tudo o que se produzia de novo no campo das ciências sociais, da psicologia, da fisiologia, da pesquisa clínica e das teorias físicas, bem como das ciências da religião, sempre preocupado em integrar os novos dados científicos a sua cosmovisão filosófica.


INFLUÊNCIAS recebidas

A axiologia, em sua origem, recebe suas primeiras influencias de Lotze que foi quem introduziu os conceitos de "valor" e de "valer" na filosofia contemporânea, contrapondo rigorosamente o mundo do "valor" ao mundo do “ser”. Também o teólogo Ritscht e o filósofo Brentano contribuíram como pioneiros para que a problemática axiológica se fixasse na filosofia.
Max Scheler, principal pensador da axiologia, foi influenciado pela fenomenologia de Husserl, pelo existencialismo de Heidegger, pelo idealismo alemão, pela biofilosofia ou filosofia da vida e por fim o que marcou mais o pensamento de Scheler foi o cristianismo, que serviu como pano de fundo na elaboração da filosofia dos valores ou axiologia.
De Husserl Scheler absorveu, em particular, o caráter fundamental da intuição.


influÊncias deixadas

 Scheler é um semeador de idéias geniais em desordem, falhas de uma raiz donde brotem e que lhes de a plenitude do seu sentido. Depois do uso da fenomenologia como conhecimento de essências, é necessário pó-la ao serviço de uma metafísica sistemática.
Scheler não fez isso, mas preparou o caminho para a metafísica atual. Concentrou a sua atenção nos temas do homem e da sua vida: a sua filosofia estava orientada para urna antropologia filosófica que não chegou a amadurecer. Esta tendência, ao adquirir sistematismo fundamental o converter-se em metafísica rigorosa, desembocou na analítica existencial.
A ética de Scheler inspirou a ética de Hartmann e, em geral, a de todas aquelas doutrinas (realistas ou pragmáticas) que reconhecem a objetividade dos valores e de sua hierarquią. Mas, na análise fenomenológica da experiência emotiva do homem, o seu exemplo viria a ser continuado, sobretudo por Heidegger.
Em suma, a grande influência deixada pela axiologia foi a Ética e a Moral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A axiologia foi um verdadeiro caminho construído através da fenomenologia de Husserl e Heidegger. Caminho este, percorrido principalmente por Scheler, que passou por varias transformações, de mudanças de opiniões, crenças e chegando cada vez mais a convicções que este autor, não é mais um filosofo cristão, mas um autentico cristão filósofo que usou todo o aparato filosófico a serviço de uma cultura, o cristianismo.

Por fim, pode-se dizer que a axiologia não cumpriu a intenção com a qual surgiu no principio do século XX, mas contribui, pelo contrario, para a ligação das vertentes que pretendia substituir - a Ética e a Metafísica. Assim, a teoria dos valores encerrou-se como capitulo, necessitando de uma fundamentação. A filosofia do nosso tempo, para alem da teoria do valor, empreendeu um caminho mais fecundo no entrar resolutamente (decididamente) pela via da metafísica.

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