O SUICÍDIO COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE
O campo da bioética é por essência conflitante, sendo
que, o alvo que se tem em mira é sempre a vida. E, todos os questionamentos
referentes à vida causam inquietação nos seres humanos, e principalmente quando
se trata de optar pela morte, como é o caso do suicídio.
O suicídio quebra a ordem
natural da vida, e isso faz com que surjam discussões acerca do mesmo. Trata-se
de um ato que não se restringe a uma faixa etária, uma classe ou cultura, más,
trata-se de algo que está presente desde a infância até a velhice e, em todas
as classes e culturas. Desde que o homem deu-se conta do seu existir, enquanto
ser pensante e dono de seus atos passou a existir o suicídio. Partindo dos
primórdios da humanidade até a contemporaneidade.
Atualmente,
o suicídio se tornou algo de extrema preocupação, pois dados estatísticos
mostram que, a cada dia vem aumentando a morte causada pelo ato suicida. Sendo
assim, além do suicídio se tornar um problema de ordem política, social,
religiosa, se tornou também um grande problema de saúde.
1.1 ESTATÍSTICAS
Estudos realizados pela Organização
Mundial da Saúde (OMS) estimaram um número elevadíssimo no ano 2000 de mortes
causadas pelo ato suicida. Concretizaram o ato suicida cerca de 1 milhão de
pessoas. Segundo a OMS em 1950 a média anual de suicídios era de 10,1 a cada
100, 000 habitantes. Em 1995 passou para 16 a cada 100, 000 habitantes.
Percebe-se que houve um aumento relevante, de 60% em relação ao ano de 1950 e
1995. “Países do leste Europeu são os recordistas em média de suicídio por
100,000 habitantes. A Lituânia (41,9), Estônia (40,1), Rússia (37,6), Letônia
(33,9) e Hungria (32,9). Guatemala, Filipinas e Albânia estão no lado oposto,
com a menor taxa, variando entre 0,5 e 2. Os demais estão na faixa de 10 a
16”.(GREGÓRIO, 2005).
Estatísticas publicadas no ano de
2000 mostram que a China lidera com o maior índices de suicídio. “Foram 195 mil
suicídios no ano de 2000, seguido pela Índia com 87 mil, a Rússia com 52,5 mil,
os Estados Unidos com 31 mil, o Japão com 20 mil e a Alemanha com 12,5 mil”
(GREGÓRIO, 2005). Estes índices são alarmantes, preocupantes, más, no entanto,
estes índices já se tornaram ultrapassados. E o que parecia sério se tornou
ainda mais sério.
Nesta década, o numero de suicidas tem crescido a razão de10% ao ano.
Em 2003, 34,000 se mataram no Japão. É o maior índice em relação à população,
(25 em cada 100,000 habitantes) entre países desenvolvidos, mais que o dobro
que verificamos nos Estados Unidos e seis vezes o Brasileiro.(KOSTMAN, 2005).
Aqui se percebe como o suicídio vem
crescendo em escala abrangente, ao compararmos o ano de 2000 em relação ao de
2003. “Na Ásia e no Oriente a taxa de suicídio por 100,000 habitantes é mais do
que 16, na América do Norte situa-se em 8 e 16, América do Sul apresenta-se com
menos de 8 e, na África não há dados disponíveis”( GREGÓRIO, 2005).
É bom se ter em mente que o que se
entende por morrer por suicídio, varia de nação para nação, cultura para
cultura.Os conceitos mudam, por isso se propõe mais adiante trabalhar e tentar
definir numa visão geral o conceito de suicídio.
Ver-se-á agora alguns índices a
respeito das mortes por suicídio:
Entre 1989
e 1998 os suicídios aumentaram 56,9%.
- O índice
brasileiro é de 4,9 suicídios para cada 100,000 habitantes.
-
O Rio Grande do Sul possui índices mais altos: 11 para cada grupo de 100,000
mil habitantes.
- Porto
Alegre é a capital com maior taxa de suicídios (11,9/ 100,000).
- Entre
1993 e 1998, o numero de jovens que tentaram o suicídio aumentou 40%.
-Em 1997
quase 1,500 jovens tentaram se matar no Brasil “(SUICÍDIO, 2005)”.
Estes
índices apontados produzem na humanidade uma inquietação, e esta inquietação
leva a uma reflexão. Pois, se está diante de um grande problema, e por isso, é
que em 1994 a OMS, advertiu que o suicídio ocupa o terceiro lugar entre as
principais causas de morte no mundo. Seguidamente analisar-se-á as
probabilidades referentes ao dano autodestrutivo, o suicídio.
1.2 PROBABILIDADES
São vários os fatores que, estimulam
nos indivíduos a busca pela morte. E, por outro lado, existe fatores que
condicionam os indivíduos a praticar o ato suicida, mesmo às vezes não sendo a
morte o desejado como fim último. A seguir, serão apontados os tais fatores que
aumentam o risco de suicídio.
As tentativas de suicídio ocorrem
cerca de 10 a 15 vezes a mais do que o ato em si. Por exemplo, nos Estados
Unidos 30,000 mil pessoas concretizam o ato suicida a cada ano, e as tentativas
de suicídio são estimadas em 8 a 10 vezes mais este número.
Através da
observação dos casos de suicídio, pode-se constatar que há certos fatores que
estão relacionados a uma maior ou menor probabilidade de cometer o suicídio.
Por exemplo, as mulheres tentam o suicídio 4 vezes mais que os homens, más os
homens o cometem ( isto é, morrem devido a tentativa) 3 vezes mais do que as
mulheres (SUICÍDIO, 2005).
O que mostra que estes dados são
coerentes é que, as mulheres utilizam meios, métodos mais brandos que os
homens. Enquanto as mulheres buscam cometer o ato suicida tomando uma superdose
de remédios ou venenos, os homens buscam métodos mais agressivos e fatais, tais
como: arma de fogo, enforcamentos e etc.
Freqüentemente acredita-se que o
suicídio acontece entre os 15 e 44 (Quinze e quarenta e quatro) anos, sendo que
os períodos perigosos são os de transição de fases, ou seja, de mudanças de
estados psicológicos. Desta forma o “adolescente-jovem” está num período de
busca de algo que o satisfaça e conseqüentemente neste período, qualquer
desencontro pode levá-lo a um grande transtorno que ocasionalmente o conduz a
prática do ato suicida.
Portanto, suponha-se tal exemplo:
Durante o percurso de viagem um jovem que sonhava ser jogador de futebol sofre
um acidente e suas pernas sofrem grandes danos, perdas irreparáveis por
conseqüência do mesmo. Dada tal situação é notório o fato de seu sonho (desejo)
foi destruído.
Segue-se então, que para ele o que
antes era objetivo (sonho), torno-se agora algo inalcançável.
Perante tal situação a frustração é
inevitável, sentindo-se um derrotado escolhe a morte, ou melhor, o suicídio
como forma de alívio para seu sofrimento.
Percebam que estas idades que
delineiam as fronteiras da vida são, portanto, perigosas.
Ao tratar-se do suicídio, faz
importante notar que a depressão também é uma das grandes causadoras do mesmo,
cerca de 70% dos suicídios são decorrentes de uma fase depressiva.
A depressão
é um transtorno psiquiátrico comum que pode prejudicar a saúde, o trabalho e os
relacionamentos de uma pessoa e em alguns casos levar ao suicídio. A sua
prevalência em análises verticais das populações é de cerca de 1,9% e, em
análises horizontais, com seguimento no decorrente da vida, é de cera de 17,1%
. Porém, menos de 40% dos pacientes com transtornos psiquiátricos procuram por
auxilio médico, e menos de 20% com transtornos psiquiátricos e em atividade se
encontra em tratamento com um especialista. (BALLONE, 1999, p.1).
Pessoas com idade mais avançada
praticam o suicídio com mais freqüência que os jovens, muitas vezes por
acharem-se inválidas. Claro que isso é relativo e varia de pessoa para pessoa.
Quando chegam em uma determinada idade, dizem que são incômodos para os filhos
e que não tem mais possibilidade de contribuir em nada e, assim, buscam a morte
como forma de não dar trabalho aos mesmos. Tomam esta alternativa muitas vezes
com medo de uma vida vegetativa.
Há ainda outros fatores que aumentam
a probabilidade de um indivíduo cometer suicídio, como, por exemplo, o que
trata a seguinte citação: “Qualquer distúrbio (depressão, ansiedade, psicose,
etc.) mais os seguintes fatores aumentam o risco de suicídio: Isolamento
social, falta de amigos, não ser casado, não morar com uma outra pessoa, não
ter filhos, não ser religioso” (SUICIDIO, 2005).
Na medida em que o suicídio é
calculado, planejado, e por ventura ocorre de forma contrária o que tinha se
pensado, pode se aumentar o risco te ocorrer novas tentativas na busca de um
acerto, que seria a concretização do ato suicida.
A doença física também é uma
motivadora para o suicídio. “Ela é um fator significativo em cerca de 25% dos
suicídios, aumentando em conjunto com o fator idade: cerca de 50% dos suicídios
em pacientes com mais de 50 anos e, 70% dos suicídios em maiores de 70 anos
estão relacionados com o sofrimento por doenças físicas” (BALLONE, 1999, p.1)
Doenças como câncer, AIDS também
podem ser pontuadas como agentes motivadores do suicídio. Por exemplo, uma
jovem de 17 anos, filha única, repleta de sonhos, sente fortes dores no
estômago. Resolve fazer uma consulta para ver o que está acontecendo. Dias
depois de ter feito um exame, o resultado consta que esta jovem tem câncer
galopante no estômago. Para ela o mundo desaba, sente que a morte está se
aproximando. Assim, o medo de fazer seus pais sofrerem provocam nela um certo
sentimento de culpa. E com esse sentimento de culpa vem também o medo de ficar
sofrendo. Após ter ficado dias a pensar a respeito de sua vida, resolve por fim
se suicidando. Esta jovem que tinha diversos sonhos, tira a vida por saber que
o sofrimento estava perto, e para não ver também o sofrimento de seus pais,
finalmente resolve-se por concretizar o ato suicida. Este é um simples exemplo,
mais muitos casos como este acontecem no cotidiano.
Dentre tantos fatos probabilísticos
que podem levar ao suicídio foram elencados alguns acima, ver-se-á outros no
decorrer deste trabalho.
2 ANALISE DA LINGUAGEM REFERENTE AO
SUICÍDIO
Muitas pessoas buscam causar danos em
si próprias, sendo que as razões e as formas variam de pessoa para pessoa. E,
em muitos casos esta busca desenfreada pelo “dano a si próprias” tem como
resultado a morte. Há quem diga que a morte provocada, ou auto-infligida,
ocorra conscientemente ou inconscientemente, como é o caso do fumante, por
exemplo. Este muitas vezes tem consciência que o cigarro pode o levar a morte,
más, mesmo assim prefere continuar fumando. Por outro lado temos o suicida
inconsciente, que acredita que o cigarro não lhe fará mal, por isso, fuma
normalmente, e aos poucos vai causando para si a morte parcial. Pois aos poucos
o seu organismo vai sentindo o efeito arrasador da toxina. Perceba que aqui já
se está entrando em uma problemática. Será que o suicida, que não tem a
intenção causar a morte para si, pode ser qualificado como suicida?
As
pessoas muitas vezes, planejam a morte milimétricamente, ou seja, calculam tudo
nos mínimos detalhes. Neste caso, quando o suicídio é planejado, a princípio
parece ser um suicídio, pois a pessoa deseja a morte. Más, por outro lado,
existem indivíduos que buscam a morte como uma forma de sensibilizar, e até de
castigar a outros. Contudo, neste segundo caso, o ato praticado não pode ser
caracterizado como suicídio. Pois, o indivíduo não tinha a intencionalidade de
morrer. Foi um ato insensato, uma tentativa de sensibilizar a outras pessoas.
Um exemplo de suicídio planejado:
A família
de Paula vivia alvoroçada por causa dos problemas por que estava passando o
filho dela. Em razão disso, estavam recebendo uma ajuda regular dos serviços
psiquiátricos da comunidade. Embora ela própria tivesse recebido um tratamento
para a depressão muito anos antes, Paula não estava recebendo nenhum tratamento
no momento presente. Certo dia foi até a banca de jornal e comprou um isqueiro,
apesar de não ser fumante. No dia seguinte, foi até um posto de gasolina e
comprou um litro de gasolina, apesar de não guiar nenhum veículo. No dia
seguinte, após o almoço da família, entrou na garagem, derramou gasolina sobre
as próprias vestes e ateou fogo em si mesma. Após a morte foi encontrado um
bilhete dentro da sua escrivaninha, no qual pedia desculpas por ter sido uma
péssima mãe (FAIRBAIRN, pág.15).
Note que, neste caso, temos três
evidências que nos levam acreditar que o suicídio foi programado: a compra do
isqueiro, da gasolina e o bilhete deixado. Nesta circunstância, podemos caracterizar
tal ato, como suicídio, pois era o que Paula tencionava, ou melhor, desejava.
Assim, não importa como a pessoa pratica o ato suicida, ou o local onde
pratica, ou em que circunstância que ela o realiza. O que importa é a intenção
que a pessoa teve ao cometer o ato suicida.
Muitas
pessoas gostam de além de sensibilizar, enganar os outros. Sendo que uma ação
praticada, pode representar diversos atos. “Às vezes, as pessoas se põem a
ludibriar os outros com suas atitudes, dando a entender que devem ser
considerados como determinado ato, quando, na realidade, representam outro ato”
(FAIRBAIRN, pág. 18).
Neste
sentido, pessoas propensas ao suicídio, podem de certa forma, gesticular o ato.
Que por sua vez pode ter diversos “sentidos”, ou até mesmo, diferentes
significados. Aqui novamente há a defrontação com outro problema: saber quando
o ato é gesticulado, ou real.
1.2 QUANDO UM SUICÍDIO É REAL? E QUANDO É
GESTICULADO?
Viu-se anteriormente que existem
grandes diversidades de atos, a respeito de como infligir um dano pessoal a si
mesmo, tais como, o enforcamento, drogas, o uso de armas, o corte nos punhos, o
afogamento, o envenenamento e etc. No entanto, o que importa no momento, é
ter-se em mente que uma ação pode caracterizar diversos atos. Assim, para
pontuar que o suicídio é real ou gesticulado, tem-se que saber qual era a ação
que o suicida visava, a morte, ou apenas sensibilizar, ou enganar alguém.
Traz-se como exemplo, uma mulher que
foi informada por uma vizinha que seu marido estava lhe traindo com a sua
melhor amiga. É obvio que a revolta que esta mulher sente é enorme. E diante de
tal problema resolve tomar uma superdose de remédios. Neste caso, o que
interessa é captar o que esta por traz de cada ação realizada. Assim ver se a
mulher tinha a intenção de morrer ou continuar viva, ou de brincar com a
própria vida. Perceba que cada uma destas supostas alternativas constituiria um
ato visivelmente diferente.
Dentre o que foi visto, pode-se
claramente destacar que é de extrema necessidade fazer as seguintes
considerações diante de um ato suicida: Se o indivíduo tinha a intenção de
morrer ou continuar vivo; e quais foram às intenções particulares e, também as
sociais que o motivaram a praticar o ato suicida.
“Por isso é importante decidir quais
eram as intenções físicas de quem praticou um dano suicida, a fim de que sejam
tomadas decisões a respeito do modo como ele deve ser tratado, a respeito do
que será útil para ele e, por exemplo, a respeito do que pode diminuir as
possibilidades de ele vir a agir de forma semelhante no futuro”.(FAIRBAIRN,
pág. 22).
Em meio a um problema social, o
indivíduo pode praticar o ato suicida sem ter em mente a morte. Por exemplo, um
cidadão com quatro filhos para alimentar. Sendo que sempre esteve empregado e,
este emprego garantia o sustento e a educação de seus filhos. De repente, se
defronta com o desemprego. Entra numa situação nunca vivida antes. Este cidadão
faz de tudo para conseguir um novo emprego, porém ninguém quer empregá-lo por
que tem idade avançada. Ele se sente totalmente inútil, desprezado. E além de
ser rejeitado pelos setores empresariais, a sua própria família começa a
rejeita-lo. E, em um determinado dia resolve por fim a sua própria vida. Neste
caso dá-se a entender que o cidadão não desejava a morte, até por que lutou
para conseguir emprego. Buscou a morte como uma forma de fugir da realidade que
estava vivendo: da inutilidade, do desprezo, de ver os filhos passando
necessidades, e da própria rejeição da família. Contudo, a intenção de tal
indivíduo não era a morte e, isso não pode ser pontuado como suicídio.
No entanto, existem alguns métodos
suicidas que mostram claramente que a ação de fato seria um suicídio. Como por
exemplo, o uso de armas, o enforcamento, o colocar-se fogo, e assim por diante.
Estes métodos evidentemente apontam que o indivíduo tinha como intenção à
morte, pois são métodos praticamente fatais, quando não visto por alguém
momentos antes da realização. Assim pode-se perceber a importância que o método
tem para declarar se o suicídio é rel ou gesticulado.
Existem casos que as pessoas fazem da
viva uma grande “brincadeira”. Ou seja, usam meios que podem levá-las a morte.
Como por exemplo, um jovem que se põe em um “racha” de carro. Mesmo sabendo do
perigo, do risco de morrer, pratica a ação. Neste caso, se por um erro de
calculo dê um acidente pode ser considerado um suicídio? A partir do ponto de
vista visto anteriormente, não pode ser considerado suicídio, pois tal jovem
não tinha a intenção de morrer, e sim de apenas praticar uma aventura de grande
risco.
Várias vezes por não se saber o que o
indivíduo pretende com aquilo que realiza, faz-se uma má interpretação do ato
suicida. Diversos suicídios são classificados de forma errada, muitos são
classificados como acidente, enquanto na verdade são evidentemente suicídios.
Esses erros acontecem porque é difícil dar uma determinação correta a respeito
da natureza do suicídio, pois, depois do ato ocorrido não é fácil decidir qual
era a intenção do concretizador do ato suicida, se erra de morrer ou continuar
vivo. Percebe-se a aqui a complexidade que decorre a respeito do ato suicida.
O suicídio muitas vezes é acobertado
pelos investigadores, pois, queira ou não, o suicídio é causa de repulsa diante
da humanidade. E, em uma forma de proteger a família de tal “vergonha”,
preferem abafar o ato suicida, dando uma resposta menos plausível a respeito do
mesmo. E, também fazem este tipo de “acobertamento” porque se não a família não
tem o direito de se beneficiar com as apólices de seguro.
“O suicídio é arrasador. É um assalto
contra as nossas idéias a respeito daquilo que se apresenta a vida” (FAIRBAIRN,
pág. 29).
FAIRBAIRN (1999) pontua o
que é o suicídio para grande parte da humanidade, sendo que existem pessoas que
acham o suicídio um espetáculo, bonito de se ver, e que causa emoção.
1.3 SUICÍDIO MEDIANTE A UMA AÇÃO
A esta altura, muitos questionamentos
vêm à tona, pois, a cada passo dados problemas novos vão surgindo.
Questionamentos do tipo: como pode alguém se suicidar? O suicídio é correto ou
não? A cerca de tais questionamentos, sabe-se que o individuo pode dar fim a
sua vida por meio de uma ação, ou de ações pessoais, exemplo: enforcamento,
envenenamento, atear fogo sobre si, cortar a própria garganta.
Algo que soa estranho aos nossos
sentidos é saber que uma pessoa pode se suicidar mediante a ação de uma outra
pessoa. Por exemplo, implorar, ou até mesmo ordenar que alguém a mate. Contudo,
um caso deste tipo pode ser caracterizado como suicídio assistido. E, mesmo
sendo a morte concretizada por outra pessoa, o suicida continua sendo, nestas
condições, agente da própria morte. Pois, foi ele que implorou e ordenou que o
outro lhe matasse. Ele tencionava a morte. Nota -se que esta foi apenas uma
extensão do ato suicida. Por exemplo: um homem que se atira na frente de uma
carreta que vem em alta velocidade. O motorista não tem a intenção de matar tal
homem. Quem tenciona e deseja a morte é o próprio homem. E, por isso se joga de
repente na frente da carreta. Este seria claramente um suicídio realizado pela
ação de outra pessoa, porém partindo do desejo, da intenção do suicida.
Outro caso que a principio parece
estranho, más que acontece no cotidiano, é o suicídio por omissão. Costuma-se
escutar que o suicídio é algo que a própria pessoa pratica. No entanto, esta
prática do ato suicida pode ocorrer em conseqüência de uma omissão. E, sendo
esta omissão partida do suicida, ela tem pelo menos duas possibilidades: - Se
omitir de algo que o manterá vivo, ou que lhe trará algum benefício. Traz-se
como exemplo, uma pessoa que por vaidade, resolve parar de comer. Ela já
estando com grande risco, e não tendo mais condições de ficar sem se alimentar,
pois, já está num estado avançado de desnutrição, podendo a qualquer momento
morrer. Mesmo sabendo do perigo que passa, se põe à mercê de tal perigo. – A
segunda possibilidade, seria evitar uma ação, na qual poderia continuar vivo,
preferindo o que acabará sendo fatal. Por exemplo: uma adolescente que se
dirige para o colégio, e derrepente, vem em sua direção um carro desgovernado.
Ela tendo condições de desviar do carro prefere ficar parada esperando que o
carro a atinja. Perceba que em ambas possibilidades, podemos claramente
caracterizar como suicídio. Isso porque, a intenção pela morte partiu do
individuo.
Outro caso ainda mais complexo seria
o caso do suicídio pela omissão de outra pessoa, que por sinal também assume
duas formas: - “O individuo pode suicidar-se pela omissão de outra pessoa em
administrar-lhe um tratamento que era necessário para lhe preservar a vida” (FAIRBAIRN,
p. 33). Por exemplo, uma pessoa que tem diabete. Ela sabe que todos os dias têm
que receber insulina, para que o seu organismo funcione normalmente. Ela
resolve em um determinado dia não tomar a dosagem de insulina e, para isso, ela
implora, ordena que o enfermeiro, que a presta cuidados, não aplique a dose de
insulina. Note que desta forma ela comete o suicídio, pois foi tencionado por
ela. Porém, o suicídio ocorreu pela omissão do enfermeiro, em lhe aplicar a
dosagem, mesmo que a intenção de não receber tal dosagem partisse dela. Uma
outra forma, de acordo com FAIRBAIR (1999): - “Seria possível a pessoa
suicidar-se fazendo com que outras pessoas deixassem de evitar que ela se
lesasse por uma fonte externa, embora os exemplos deste caso sejam mais difícil
de serem considerados” (FAIRBAIRN, p. 34). Aqui, tem-se uma forma bastante,
difícil de se entender, algo complexo, e pouco comum. Para clarificar esta
forma de suicídio pela omissão de outra pessoa, utiliza-se do seguinte exemplo:
“... um soldado horrivelmente ferido e aterrorizado com a vida que iria
enfrentar no futuro, em razão das lesões sofridas, pedem aos colegas que o
deixem morrer no campo de batalha, em lugar de levá-lo consigo quando batem em
retirada” (FAIRBAIRN, p.34). Em ambas as formas vistas, vê-se claramente que, a
intenção, a vontade pela morte partiu do indivíduo, embora a omissão tivesse
partido de uma segunda pessoa. Assim, a pessoa que realizou a omissão, fez isso
por respeitar, e consentir o desejo do suicida. No entanto, estas duas formas
podem ser consideradas suicídio.
Em meio ao caminho até aqui percorrido, despontam novas
dificuldades em conseqüência da problemática que é o suicídio. A pergunta que
supostamente perpassa na massa cognitiva neste momento é: Como considerar um
suicídio correto ou não? Qual a possível definição mais plausível que se pode
dar ao suicídio? Tais perguntas serão analisadas a seguir.
REFERÊNCIAS
GREGÓRIO, B. S. Suicídio.
Disponível em:<http://www.ceismael.com.br/artigo/artigo006.htm>
Acesso em: 10 mar. 2005.
SUICÍDIO. Disponível em:<http://spectrungothic.com.br/goticismo/suicidio.htm
>Aceso em: 10 mar. 2005.
FAIRBAIRN, G.J. Reflexões em torno do suicídio. São
Paulo: Paulus, 1999;
BALLONE, G.J. Resumo do simpósio sobre suicídio. Disponível
em: Acesso em: 10
mar. 2005.
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