Este trabalho visa elucidar uma questão que ocupa
grande destaque na epistemologia dos últimos trinta anos: o Problema de
Gettier. No intento de convencer o leitor da grande problemática levantada por
Gettier, começarei a descrever o conceito tradicional de conhecimento que
perdurou por mais de dois milênios, ressaltando-se assim a importância do mesmo
ao ser cognocente. Logo após, apresentarei um dos exemplos formulados por
Gettier, salientando assim, a vulnerabilidade da definição tradicional.
O
conhecimento é um termo de real importância ao homem; vivemos buscando o
conhecimento. Uns vão em busca dele por vontade e desejo de conhecer, outros
são obrigados e coagidos por forças exteriores. O certo é que ninguém gosta de
ser enganado, por isso o conhecimento é para o homem uma pedra preciosa e com
efeito sua aquisição é tomada mediante a minuciosos critérios. Um termo desta
relevância deve, então, ser perfeitamente definido como esteve, até 1963.
A
definição tradicional de conhecimento foi definida pelos gregos há mais de dois
milênios, parece consenso aceitar que já no Ménon de Platão emerge a acepção de
conhecimento que permaneceu intacta até o século XX.
Vejamos: -
Eu (E) só posso afirmar que conheço algo (A) se e somente se;
-
E creio que em A;
-
A é verdadeiro
-
E tenho justificações para crer em A
Como
podemos perceber na definição aduzida acima, o conhecimento envolve três
elementos imprescindíveis, são eles: crença, verdade e justificação. Logo, ao
afirmar que eu conheço algo, este algo tem que ser verdadeiro, no entanto isto
só não basta, é preciso apresentar
plausíveis justificações que legitimem minha concepção.
Em 1963, Edmund Gettier
desmantelou esta definição ao apresentar
um pequeno artigo de três páginas e desde lá este problema suscitado pelo autor
vem ocupando o tempo de pessoas de reconhecida capacidade intelectual. Através
de dois sucintos exemplos, Gettier evidencia que crença, verdade e justificação
não são elementos suficientes para afirmar que temos conhecimento de algo.
Podemos esquematizar um dos exemplos da seguinte maneira:
Com novo
emprego e dez moedas no bolso: Smith tem forte evidência para a seguinte
conjunção, d: Jones será indicado para o emprego e tem dez moedas no bolso, da
qual deduz a proposição e: O homem que será indicado para o emprego tem dez
moedas no bolso. Acontece que, sem que Smith o saiba, ele é que será o indicado
para o emprego e, coincidentemente tem dez moedas no seu bolso.
O problema posto por Gettier é
facilmente detectado, percebemos que Smith tem crença verdadeira e justificada,
portanto para a definição tradicional Smith tem conhecimento, entretanto isto
foi ocasionado apenas a um enorme golpe de sorte, do qual ele não faz a menor
idéia, de tal modo que não nos disporíamos a atribuir a ele conhecimento neste caso.
Sorte não é conhecimento, e isto o leitor deve concordar com Gettier, afinal
ninguém ganha na sena por ter conhecimento, mas sim por ter sorte. Deste modo,
a velha definição tradicional oriunda há mais de dois milênios é quebrada por
apenas três páginas, feito este que elevou e titulou Edmund Gettier como o
fundador da epistemologia contemporânea.
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