sábado, 15 de junho de 2013

A origem do capitalismo




2.1 Definição de capitalismo

Max Weber objetivou compreender o capitalismo como uma forma de civilização, assim como a ciência, a arte, a arquitetura a universidade e o Estado. Tendo no ocidente um estágio de desenvolvimento que possa ser reconhecido, sendo que ele já existia manifestações do capitalismo até mesmo em culturas orientais. Essa operação é marcada pelo calculo racional, do que investir, o que importa nesta concepção é a efetiva orientação para um ajustamento dos lucros ao investimento, por mais primitiva que seja a sua forma.
Neste sentido o capitalismo já existiu em todos os paises da Terra, no ocidente, todavia, ao lado desse, veio a conhecer na era moderna, um tipo completamente diverso e nunca antes encontrado de capitalismo: a organização capitalista racional, assentada no trabalho livre, separando a empresa e seus bens da economia doméstica, dos bens do indivíduo, com uma contabilizaçao  racional da empresa capitalista. Mas o grande desenvolvimento ocorreu no Ocidente na corrida desenfreada pelo lucro. 
Na busca de uma definição mais ampla do capitalismo deve-se deixar claro como este sistema de mercado está fundamentado em vários princípios, sendo estes:
- Propriedade privada de meios de produção (no qual as pessoas individualmente ou reunidas em sociedade são, donas dos meios de produção);
- A transformação da força de trabalho em mercadoria, isto é, quem não é dono dos meios de produção é obrigado a trabalhar em troca de um salário;
- A acumulação do capital, quem produz, quer produzir sempre pelo menor custo e vender pelo maior preço possível, para obter a maior diferença entre o custo de produção e o preço de venda do produto;
- A livre concorrência, isto é, a concorrência é a competição na venda dos bens de serviços. Na prática, a concorrência é onde todos têm o mesmo direito para produzir, comprar, vender, fixar os preços etc.
O capitalismo teve sua origem na Europa. Suas características aparecem desde a baixa Idade Média (do século XI ao XV), com as mudanças que ocorreram no próprio modo de vida cristão, prinicipalmente com a transferência do centro da vida econômica social e política dos feudos para cidade.

A concepção cristã medieval o trabalho uma verdadeira maldição, devendo desenvolver-se apenas na medida em que o homem dele necessitasse para a sua sobrevivência, não sendo aceitado jamais, como um fim em si mesmo. Esta concepção cristã não atribuía ao trabalho nenhum grande mérito ou significado capaz de conduzir o homem à salvação individual. Pregava, inclusive, que se o indivíduo pudesse livrar-se do trabalho em virtude de suas riquezas e dedicar-se integralmente a vida contemplativa e à oração, tanto melhor. Para esta concepção cristã a vocação do homem se realizava nessa contemplação, estado perfeito que se unia à divindade ( CATANI, 1984, p. 15, 17). 


O surgimento dos primeiros comerciantes e artesãos livres nas pequenas cidades foi o germe de uma sociedade nova que, no decorrer de alguns séculos, substituiria o sistema feudal. No capitalismo, as classes não mais se relacionam pelo vinculo da servidão, mas pela posse ou carência de meios de produção e pela contratação livre do trabalho.
No capitalismo a produção e a distribuição das riquezas são regidas pelo mercado, no qual os preços são determinados pelo livre jogo da oferta e da procura onde o capitalista que é proprietário dos meios de produção, compra a força de trabalho de terceiros para produzir bens que, depois vendidos, lhe permitem recuperar o capital investido e obter um excedente denominado lucro.
Podemos determinar o modo de produção capilaista em duas condições que são:
- A existência de capital, conjunto de recursos que se aplica na compra de meios de produção;
- Força de trabalho e a existência de trabalhadores livres, que vendem sua força de trabalho em troca de salário.
Definem-se, por meio destas condições as duas classes sociais básicas que formam a sociedade capitalista: a primeira a dos capitalistas (conhecida também como burguesia) e a segundo que ficou conhecida como a dos assalariados (conhecida como proletariado).                                                                                                          
Outros  fatores que dão ênfase ao capitalismo são a acumulação permanente de capital; a distribuição desigual da riqueza; o papel desempenhado pelo dinheiro e pelos mercados financeiros; a concorrência, embora modificada pela concentração monopolista; a inovação tecnológica ininterrupta e, nas fases mais avançadas de evolução do sistema, o surgimento e expansão das grandes multinacionais.
O capitalismo também pode ser denominado como economia do mercado ou de livre empresa, isto é, a circulação de mercadorias e de dinheiro não basta para caracterizá-lo: sua origem não pode ser  confundida com o inicio do comercio de larga escala. A classe mercantil afirmou-se na fase de decadência do modo de produção feudal, mas o capitalismo só floresceu quando o modo de produção que o caracterizava tornou-se dominante. Assim, não se pode falar em capitalismo na antiguidade ou na Idade Média, nem em cidades como Gênova, Veneza ou Pisa, que se desenvolveram em função do comercio.
A expansão do capitalismo comercial, ocorrida entre os séculos XIII e XVIII, promoveu a difusão das idéias mercantilistas, que advogam a intervenção do Estado para promover a prosperidade e o fortalecimento das nações. Como a acumulação de riquezas dependia da exploração e comercialização do ouro e da prata, os paises tiveram que  se lançar à conquista de novas terras e à ampliação dos mercados e dessa forma o espírito mercantilista estimulou os sentimentos nacionalistas, provocando o florescimento do comércio e em conseqüência criou as condições para a aparição do modo de produção capitalista.

A expansão do comércio, particularmente do comércio de longa distância, levou ao estabelecimento de cidades industriais e comerciais para servir a este comércio. O crescimento dessas cidades, bem como o seu crescente controle por capitalistas comerciantes, provocou importantes mudanças, tanto na agricultura quanto indústria. Cada uma destas áreas, particularmente a agricultura teve enfraquecidos e, por fim  rompidos seus laços com a estrutura econômica e social feudal (HUNT, 1989, p. 33, 34).

A evolução do capitalismo industrial foi em grande parte, conseqüência do desenvolvimento tecnológico, por imposição do mercado consumidor, os setores de tecelagem foram os primeiros a usufruir os benefícios do avanço tecnológico e a indústria manufatureira evolui para a produção mecanizada, possibilitando a construção de grandes empresas, nas quais se implantou o processo de divisão técnica do trabalho e a especialização da mão-de-obra.
O controle capitalista foi, então, estendido ao processo de produção. Ao mesmo tempo foi criada uma força de trabalho que possuía pouco ou nenhum capital e nada tinha a vender a não ser sua força de trabalho. Estas duas características marcaram o surgimento do sistema econômico capitalista. Como resultante desta ação houve uma verdadeira ação de retirada da população do campo para os burgos.

O movimento do cercamento atingiu o seu ponto máximo nos séculos XV e XVI, quando, em alguma áreas de três quartos a nove décimos dos habitantes foram expulsos do campo e forçados a buscar sustento nas cidades. Práticas subseqüentes de cercamento continuaram até o século XIX. Os cercamentos e o crescimento populacional destruíram os laços feudais remanescentes, criando uma grande nova força de trabalho – uma força de trabalho sem terra, sem quaisquer ferramentas ou instrumentos de produção, apenas com a força do trabalho para vender. Esta migração para as cidades significava mais trabalho para as industrias capitalistas, mais homens para os exércitos e marinhas, mais homens para colonizar novas terras e mais consumidores ou compradores potenciais de produto (HUNT, 1989, p. 39).

Para Weber, o capitalismo moderno pode ser caracterizado como vasto complexo de instituições que trabalham com base mais na prática econômica racional, do que na especulativa, isto compreende no particular, empresas que operam com inversão de capitais ao longo prazo em uma oferta voluntária de trabalho, no sentido jurídico da palavra; em visão de trabalho planejada no interior das empresas e em uma distribuição das funções de produção entre umas e outras mediante o funcionamento de uma economia de mercado.
Ele não define o capitalismo em si como o desejo ilimitado de ganho, mas o espírito do capitalismo é à procura do lucro, sempre renovado, da rentabilidade, aproveitando todas as possibilidades que aparecerem. Define-se como a utilização planejada de recursos materiais ou pessoais como meio de aquisição, de forma que ao termino de um período econômico, o balanço da empresa em termos monetários, exceda o capital.
Para a concepção cristã medieval preservada pelo catolicismo que exigia como requisito fundamental dos bens materiais deste mundo, considerava o trabalho uma verdadeira maldição, enquanto que o protestantismo valorizava o trabalho profissional como meio de salvação.
Segundo Weber, até o século anterior a ele, os produtores levavam uma vida considerada muito confortável. Produziam o que vendiam, trabalhavam umas cinco horas por dia, o que ganhavam dava de levar uma vida respeitável, tinham bons momentos de lazer. Os comerciantes dos produtos cultivados por este lavrador faziam encomendas, analisavam a qualidade do produto e então o repassavam. Uma forma de organização em todos os aspectos capitalista, porém baseada num modo de vida tradicional.
Houve, no entanto, uma determinada época em que esta vida de lazer foi convulsionada. Sem mudar essencialmente sua forma de organização, mas apenas um jovem qualquer de uma das famílias produtoras sai para o campo e escolhe tecelões para seres empregados, transforma-os em operários, muda seu método de mercado, visando o consumidor final, cuidando pessoalmente dos fregueses, ajustando a qualidade dos produtos às necessidades e desejos destes consumidores. Começa-se a introduzir o principio dos “baixos preços e de grande giro”. A partir deste momento os que não se adaptaram tiveram que sair do negocio. Todo este processo não foi motivado por grandes somas de capital, mas sim pelo surgimento de um novo espírito – “o espírito do capitalismo moderno” – e a partir deste, produziu-se então o capital.
Para Weber o objetivo do capitalismo, em sua obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”, já no primeiro capítulo ele salienta que um dos fatos mais observáveis em paises de composição religiosa mista e que já esteve em pauta em inúmeros congressos católicos na Alemanha é o de que “os lideres do mundo dos negócios e proprietários de capital, assim como dos níveis mais altos da mão-de-obra qualificada, principalmente o pessoal técnico e comercialmente especializado das modernas empresas, serem preponderantemente protestantes” (WEBER, 2003, p. 39).


2.1 A INFLUÊNCIA DO PROTESTANTISMO
 
Primeiramente é necessário deixar claro que Weber está longe de afirmar que o protestantismo foi à única causa do capitalismo. O autor apresenta um pensamento muito mais sofisticado. Weber busca demonstrar as causas múltiplas e até infinitas (econômicas, políticas, militares, técnicas ente outras) do espírito capitalista. E neste sentido a ética luterana muito mais favoreceu do que gerou sozinha o capitalismo.
Weber insiste que não se pode relacionar o capitalismo como mero fruto da Reforma, visto que algumas formas importantes do sistema comercial capitalista eram ate anteriores à Reforma. Ele apenas propõe-se a investigar o impacto que os motivos religiosos tiveram no processo de desenvolvimento da moderna cultura secular, surgida de inúmeros fatores históricos.
O autor investiga sobre a concepção de vocação, entendida como um plano de vida, de uma determinada área de trabalho, como o cumprimento do dever, trazendo desta maneira, o significado religioso da palavra e atribuindo-a ao trabalho secular cotidiano.
Com Lutero e todos os ramos do protestantismo, a única maneira de viver aceitável para Deus não está mais na ascese interior, mas no cumprimento das tarefas do século, impostas a cada um pela sua posição no mundo. Nisso é que está a sua vocação. A vida monástica é vista como uma atitude egoísta e de desleixo para com as atividades deste mundo. “Em contraste surge à vocação para o trabalho secular como expressão de amor ao próximo” (WEBER, 2003, p. 73).
Esta qualificação moral das ações terrenas torna-se uma das elaborações mais cheias de conseqüências do protestantismo e do próprio Lutero. Cabe ressaltar ainda que Weber afirma o fato de Lutero não poder ser identificado ao espírito do capitalismo no sentido em que este termo esta sendo usado em sua obra.

A primeira contribuição para este processo, afirma Weber, foi dada por Martinho Lutero e sua concepção de vocação (em alemão, beruf). Para Lutero, a salvação das pessoas não vinha do fato delas se retirarem do mundo para rezar, como faziam os monges católicos. Pelo contrário, quanto mais as pessoas aceitassem suas tarefas profissionais como um chamado de Deus (vocação) e as cumprissem com disciplina, mais aptas estariam para serem salvas (SELL, 2004, 119).

Para a concepção cristã medieval preservada pelo catolicismo que exigia como requisito fundamental dos bens materiais deste mundo, considerava o trabalho uma verdadeira maldição, enquanto que o protestantismo valorizava o trabalho profissional como meio de salvação.
A concepção cristã a vocação do homem se realizava plenamente na contemplação, isto é, estado perfeito em que se unia a divindade, já no luteranismo o termo “vocação” passa a significar algo praticamente sinônimo a “profissão”; ou seja, o homem é chamado por Deus não apenas para ter uma atitude contemplativa, mais sim para cumprir sua providencia neste mundo através de seu trabalho e de sua profissão.
Com a Reforma, acontece um aumento da ênfase moral e do prêmio religioso para o trabalho secular e profissional. Lutero usa a autoridade da Bíblia para fundamentar sua idéia de vocação, tendo assim uma interpretação tradicionalista. Porém o próprio Jesus traz a idéia de renúncia ao “mundo”: “dai-nos hoje o pão nosso de cada dia”, excluindo a possibilidade da moderna noção de vocação ser baseada em sua autoridade pessoal. Lutero leu a bíblia e permaneceu com uma visão tradicional, assim como os primeiros cristãos viam o trabalho, a vocação terrena com indiferença, ma espera de que Cristo logo retornaria. Também ele crê na providencia divina, ser obediente a Deus aceitando a situação dada por Ele. Dessa maneira, “o conceito de vocação permaneceu assim em sua forma tradicional. A vocação para Lutero era algo aceito como ordem divina, a qual cada um deveria adaptar-se” (WEBER, 2003, p. 76).
Não encontrando uma grande relação entre a posição da igreja de Lutero e da vocação secular, Weber começa a investigar o Calvinismo, pois neste há uma relação diferente entre a vida religiosa e os atos seculares da que encontramos no catolicismo e luteranismo. No entanto o autor ressalta que os programas de reformas éticas nunca estiveram no centro do pensamento dos reformadores religiosos, e dessa maneira não se deve achar que encontraremos nas bases de movimentos religiosos, como nas obras de Calvino, qualquer divulgação do “espírito do capitalismo” como uma finalidade de vida. Não podemos afirmar que a ambição de seus bens materiais, tomada como um fim em si, possa ter sido elevada a um valor ético. “Os resultados culturais da Reforma foram em boa parte conseqüências imprevistas, e por isso mesmo não desejadas, do trabalhado dos reformadores, muitas vezes bastante divergentes e ate opostas ao que eles realmente desejavam” (WEBER, 2003, p. 78).
Para os calvinistas o homem deve combater sua tendência ao prazer e ao gozo, privando-se de todas as coisas que não são estritamente necessárias para a sua subsistência ou para que possa levar um estilo de vida digno e seguro. O calvinista ao contrario do católico valoriza particularmente o trabalho, o espírito trabalhador, não condenando o mundo em sua totalidade, mas apenas o gozo e o prazer, pois para o calvinista somente através do trabalho e da profissão rende-se horas e glória a Deus.
Como para os calvinistas a valorização positiva do trabalho está também a valorização da riqueza que obtida por este trabalho, nesse sentido, o capitalismo seria a cristalização objetiva das premissas teológicas e éticas, segundo as quais o homem, em virtude de trabalho, encontra um modo sensível e concreto de conquistar sua salvação individual.

No calvinismo acentua-se uma valorização religiosa da atividade profissional e do trabalho; realiza-se uma recomendação ascética onde se prega a renúncia a todos os gozos e prazeres deste mundo. Segundo a pregação calvinista o homem deve combater a sua tendência ao prazer e ao gozo, privando-se de todas aquelas coisas que não são estritamente necessárias para sai sua subsistência ou para que possa levar um estilo de vida digno e seguro. O calvinismo tudo aquilo que considera supérfluo bem como todo o tipo de pompa ou de ostentação. Em suma, o calvinsmo condena, particularmente, tudo aquilo que implique desperdício ou esbanjamento.
Contrariamente ao católico o calvinista valoriza particularmente o trabalho, o espírito trabalhador, não condenando o mundo em sua totalidade, mas apenas o gozo e o prazer.   O calvinista considera que somente através do trabalho e da profissão rende-se honras e glórias a Deus. Unicamente  se lhe desonra através do prazer (CATANI, 1984, 17).

Para o novo homem capitalista o trabalho tornou-se uma parte necessária de suas vidas. O tipo ideal de empreendedor evita a ostentação e as despesas desnecessárias, não retira nada de sua riqueza para si mesmo, a não ser a sensação irracional de haver cumprido devidamente a sua tarefa.
Weber dedica-se a procurar a razão das diferentes atitudes, no caráter intrínseco permanente de suas crenças religiosas, não se limitando assim, nas temporárias situações externas na historia e na política. No catolicismo os traços ascéticos dos seus mais altos ideais, levaram seus seguidores a uma maior indiferença aos bens desse mundo. Do lado protestante, uma certa materialística alegria de viver, ate uma crítica aos ideais católicos. Porém essas diferenças não devem ser generalizadas em todas as nações e classes sociais.
No entanto, o “espírito do trabalho”, o “progresso” ou qualquer outro nome cujo despertar se possa atribuir ao protestantismo, não deve ser entendido como alegria de viver ou em qualquer outro sentido ligado ao iluminismo. Lutero, Calvino quase nada tem a ver como o quê hoje é denominado progresso. “Se, se quiser achar qualquer relação interna entre certas expressões do velho espírito protestante e a moderna cultura capitalística, deve-se tentar acha-los, em qualquer hipótese, não na alegria de viver, considerada mais ou menos materialística, ou pelo menos antiascética, mas nas suas características puramente religiosas” (WEBER, 2003, p. 46).
Para o protestantismo, a diferenciação dos homens em camadas e vocações era resultado da vontade divina e a permanência na posição escolhida por Deus, como um dever religioso. Para os puritanos, a vida profissional da ao homem certo treino moral, provando seu estado de graça à sua consciência, ajudando-o a cumprir a sua vocação. Diferente de Lutero, que prega a aceitação do destino assinalado por Deus, a concepção puritana de vocação da ênfase a ascese vocacional. Orientado primeiramente por critérios morais, uma vocação deve ser abraçada buscando a aprovação de Deus, se Ele aponta o lucro, devereis busca-lo. “.Deveis trabalhar para serdes ricos para Deus, e, evidentemente, não para a carne ou para o pecado” (WEBER, 2003, p. 165).
            Condenavam os divertimentos populares: jogos, bebedeiras... e ate o esporte era visto como útil apenas para restabelecer a eficiência do corpo e não para a diversão. Ate mesmo os valores culturais herdados da escolástica são colocados em julgamento, imbuídos de um espírito renascentista, é na literatura e nas artes plásticas, no entanto, que a ascese marcara sua perseguição a tudo que representasse superstição, salvação mágica e outros típicos da idade medieval.
            O homem seria como que um guardião dos bens que lhe foram confiados, e como o servo da bíblia, deverá prestar conta de cada centavo, não podendo desperdiçar nada em coisas supérfluas, eram contra o uso irracional da riqueza. A ascese também condenava a desonestidade e a ânsia de riqueza como um fim em si. Mas o mais importante, a grande ênfase dada ao constante e sistemático labor vocacional secular, como o mais alto instrumento de ascese e mais seguro meio de preservação da fé e do homem, que foi a mais poderosa alavanca da expressão da concepção de vida, apontada na obra de Weber como o “espírito do capitalismo”.
            Liberando a busca da riqueza e restringindo a do consumo, o resultado que daí decorre é a acumulação capitalista, ao investimento de capital. Neste ponto discordo do autor, se toda a sociedade absorvesse o ideal mencionado acima, não teria mercado consumidor para os produtos, como geraria acumulo de capital, se nem vender seria possível? Enquanto aplicado aos donos dos meios de produção, a busca da riqueza e o pouco consumo ajudam na economia e investimento de capital, porem quando generalizado fracassaria todo o sonho capitalista.
            Mas é a divulgação destes ideais puritanos que favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. As desigualdades na distribuição da riqueza deste mundo eram obra especial da Providencia Divina, que perseguia seus fins secretos, desconhecidos do homem. A concepção de trabalho como vocação influenciou tanto modernos trabalhadores como os empresários. Esta conduta racional baseada na idéia de vocação, nasceu do espírito da ascese crista. Quando o ascetismo foi levado para a vida profissional, começou a determinar o estilo de vida de todo individuo nascido sob o sistema formado na moderna ordem econômica e técnica. Os bens materiais foram assumidos de uma forma que o capitalismo já não mais necessitou de seu antigo abrigo “.a procura da riqueza, despida de sua roupagem ético-religiosa, tende cada vez mais a associar-se com paises puramente mundanos”, (WEBER, 2003, p. 176). como vemos nos Estados Unidos. “Ninguém sabe ainda a quem caberá no futuro viver nessa prisão” (WEBER, 2003, p. 177), ou segundo Weber, poderiam surgir novos profetas, renascer antigos pensamentos e idéias, ou ainda os últimos homens desse desenvolvimento cultural poderiam ser designados como especialistas sem espírito, que imaginam ter atingido um nível de civilização nunca antes alcançado.
O desenvolvimento do espírito do capitalismo poderia ser mais bem entendido como parte do desenvolvimento do racionalismo como um todo. O trabalho a serviço de uma organização racional para o abastecimento de bens materiais a humanidade, torna-se uma das mais importantes finalidades da vida profissional. Agir como capitalista ajudaria até a fazer “caridade”, há satisfação em poder dar emprego a muitas pessoas, a fazer sua cidade crescer.
Nesse processo de racionalização, “o protestantismo deveria apenas ser considerado à medida que se constituiu num estágio historicamente anterior ao desenvolvimento de uma filosofia puramente racional” (WEBER, 2003, p. 68).

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