Ascese
e capitalismo
Para
decifrar a ligação entre as concepções religiosas do protestantismo ascético e
as máximas de vida econômica cotidiana, é preciso recorrer a textos teológicos;
sendo num contexto em que a igreja era extremamente poderosa.
Representante do puritanismo inglês,
Richard Baxter tem uma posição eminentemente pratica e irônica, bem como pelo
reconhecimento universal que seus trabalhos tiveram. Orientou seu campo de ação
essencialmente na direção da promoção prática da vida moral e religiosa.
Quando se folheia Baxter, o que a
primeira vista salta aos olhos é a ênfase nos elementos ebionitas
do Novo Testamento. A riqueza como tal é um grave perigo, suas tentações são
contínuas, a ambição por ela não só não tem sentido diante da significação
suprema do reino de Deus, como ainda é moralmente reprovável. Calvino não via
na riqueza um obstáculo a sua performance, mas, ao contrário, enxergava aí um
aumento plenamente desejável de seu prestígio e permitia aos calvinistas
investirem suas posses lucrativamente com a única condição de evitarem o
escândalo. Condenável era o descanso sobre a posse, o gozo da riqueza para o
ócio (lazer) e prazer carnal, mas acima de tudo condenava-se o abandono à
aspiração de uma vida santa.
A perda de tempo é o primeiro e em princípio o mais grave de todos os
pecados. O tempo é infinitamente valioso porque cada hora perdida é trabalho
subtraído ao serviço da glória de Deus. Mas não esquecer de guardar um tempo
para Deus.
Porque trabalho duro e continuado:
1.
por ser um meio ascético (exercício que visa bens
espirituais).
2.
por preservar de uma vida impura.
3.
terá uma melhor vida conjugal.
Mas ainda
por cima, e antes de tudo, o trabalho é da vida o fim em si prescrito por Deus.
Não trabalhar é sintoma de graça ausente. Já Tomás de Aquino concebia o
trabalho como algo necessário para a manutenção da vida do indivíduo e da
coletividade. O correto é também, o homem que tem posses trabalhar, por ser
rico, não é motivo para não ter obediência a deus como o pobre e assim,deve trabalhar
também.
Ao
descrever como a pessoa deveria encarar o seu trabalho, ele diz:...”a vocação
que cada qual deverá reconhecer e na qual deverá trabalhar deve ser encarada
como uma ordem dada por Deus ao indivíduo a fim de que seja operante por sua
glória”... e não ...“como se fosse um destino no qual deve se encaixar”
(Max,..., p.145).
Para
Tomás de Aquino, classe social e profissão eram dadas pelos planos de Deus.
Isso, no entanto, era algo muito incerto, aleatório. Já para Lutero , a
introdução profissional acontecia não graças ao plano, mas sim a vontade direta
de Deus, ou seja, religiosamente tinha obrigação de manter-se em tal posição
social. Pela concepção puritana é conforme os frutos que se reconhece qual
situação social a pessoa deve ocupar profissionalmente.
Agrada-se
a Deus quando se segue uma profissão útil. Isso se observa por critérios morais
e pela importância para a coletividade.
Deus é
intencional ao encaminhar uma pessoa profissionalmente. Assim, o cristão pensa
que é dever seguir tal chamado e aproveitar as oportunidades. Se Deus indica o
caminho da riqueza, então é permitido trabalhar para ficar rico. Mas a riqueza
deve ser somente para mais tarde viver sem preocupação prazerosamente.
A
característica do judaísmo antigo de valorização da vida, diferencia-se muito
do puritanismo. Este purificou da ética judaica horizontes que cabiam ao
“ethos” da empresa racional e da organização racional do trabalho. Os
puritanos consideram-se o povo eleito
por Deus.
Pontos
que mostram o desenvolvimento do capitalismo entre os puritanos:
ü
A ascece se volta contra o gozo descontraído da
existência e do que ela tem a oferecer;
ü
A ascece se volta contra o gozo instintivo da
vida que afasta do trabalho profissional e da devoção;
ü
Desconfiança em relação aos bens culturais cujo
valor não seja diretamente religioso.
Então além de trabalhar a pessoa é
incentivada a acumular.
Os
puritanos voltaram-se para:a literatura não científica e ainda mais no das
belas- artes, dirigidas aos sentidos. O doutrina ensinava e incentivava o homem
a ser uma máquina de fazer dinheiro; pensando na glória de Deus. Assim riqueza
é para coisas necessárias e úteis em termos práticos. A produção de riqueza era
bem vista, mas era condenável a cobiça (ambição de riqueza como fim último de
ser rico).
Condenando
o consumo e incentivando o trabalho é evidente a acumulação de capital; seguido
de seu uso em favor produtivo (o investimento de capital). O efeito disso
parece fora de cálculos, mas sabe-se que influenciou toda uma vida. O que houve
foi uma excessiva compulsão em acumular capital.
O
puritanismo até onde alcançou, o que fez foi beneficiar. Mas graças às
tentações da riqueza os ideais puritanos fraquejaram. Assim a economia tomou
tal dimensão que a religião não era mais o centro na vida das pessoas, ou seja
elas não se deixavam mais guiar pelos ideais religiosos. Com o enfraquecimento
da religiosidade o que reinava era o utilitarismo.
Na
concepção era certo buscar o lucro porque era uma indicação de ser abençoado
por Deus. Assim, vivia-se como um bom trabalhador, um religioso se acumulasse
riquezas.
A idéia
protestante foi de incentivar o trabalho como vocação, sendo um meio de
certificar-se do estado de graça. Mas essa concepção levou as pessoas à vocação
para o lucro. Essa idéia de trabalho como vocação fazia as pessoas caminharem
mesmo que inconscientemente para o capitalismo.
Ética
protestante e o espírito do capitalismo – comentário
É um dos
textos mais populares desse autor. Sendo que na obra peocupa-se em investigar
sobre as origens do capitalismo; economia que mostrava grande destaque. Assim
Weber parte verificando a influencia da religião, mas de uma maneira bem ampla.
Em
sua obra Weber não defende que o luteranismo seja a única causa do capitalismo,
mas ele admite causas múltiplas como a própria economia, a política. O que a
religião luterana tem como mérito é de ter sido uma das principais causas.
Weber
defende que “o espírito capitalista é uma ética de vida, um modo de ver e
encarar a existência” (Sell, 2004, p.118-119). A ética de vida era de obter a
riqueza através do trabalho honesto. Capitalista é quem ganha dinheiro com seu
suor, trabalho. busca da riqueza pelo o trabalho. vale a pena lembrar que essa
maneira de ser vem da ética protestante. Trata de uma ascese no mundo.
Foi
graças a Martinho Lutero que o capitalismo ganhou força no ocidente, já que sua
pregação era que esta não vem da pessoa retirar-se do mundo para rezar, mas sim
da aceitação de suas tarefas profissionais como se fosse uma ordem dada por
Deus.
O calvinismo também teve seu papel para a
firmação do capitalismo já que sua doutrina é de que os homens são
pré-destinados pr Deus para a salvação ou para a danação. O homem aparece
inteiramente independente de Deus. O sinal para saber se seria ou não salvo,
trata do sucesso ou não no trabalho. ou seja essa doutrina acabava por
incentivar ao trabalho. assim, com o esforço no trabalho glorificava-se a Deus
e conseqüentemente dirigia-se para o enriquecimento. Como se isso não bastasse,
a pessoa era incentivada a investir seu dinheiro para obter mais lucro ao invés
de gastar.
Mesmo
a religião em declínio, esta moda pegou e conseqüentemente a busca pela riqueza
era muito grande. Mas esse ideal chegou a tal ponto que se desligou da religião
e ganhou autonomia.
Tendo
a vida guiada, movida pelo sistema econômico, percebe-se que há uma forte
racionalização da vida, disciplinada e ordenada, voltada para o trabalho. assim
o protestantismo mostra-se como forma racionalizada de vida. Esse processo de
racionalização é uma das etapas finais do protestantismo e do capitalismo.
Weber ao descrever a origem do capitalismo, chama esse processo de
“desencantamento do mundo”.
Alguns
dos primeiros centros de desenvolvimento capitalista eram de origem
protestante. Isso seria por causa da quebra no tradicionalismo econômico. As
pessoas que se convertiam para o protestantismo eram obrigadas a seguir
princípios diferentes dos que estavam acostumados; principalmente com relação
aos prazeres e ao divertimento.
Geralmente as
pessoas ficam voltadas para riqueza, prendem-se no material e não buscam o que
a religião propõe, o não-material. Pensando nisso o protestantismo, para não
deixar essa regra firmar-se, exigia uma disciplina muito mais rígida do que o
catolicismo.
ao comentar sobre o texto de Max Weber
ele descreve que “o espírito do capitalismo moderno caracteriza-se, pois, por
uma combinação original da dedicação à atividade lucrativa mediante métodos
econômicos legítimos, com a não-utilização desse rendimento na prossecução de
prazeres pessoais” (p.184). onde o desempenhar uma profissão é um dever uma
virtude.
Quando uma
pessoa incorpora o espírito capitalista, ela pensa em produzir cada vez mais
para acumular cada vez mais. As ações implicam num cálculo econômico,
observa Guedes.
Ao falar da
origem do espírito do capitalismo Guedes descreve: “o espírito de
capitalismo não deriva apenas do processo do racionalismo na sociedade
ocidental” (p.184). isso porque ao verificarmos a realidade vemos que a racionalização
não leva ao total progresso.
A ética
protestante quer descobrir a raiz da racionalização que deu origem a idéia da
vocação e da dedicação ao trabalho como vocação. Esta que consiste em um
indivíduo “cumpri o seu dever para com Deus numa vida cotidiana regida pela
moral” (p.185). Assim cresce o interesse
pelos assuntos mundanos; a pessoa tem que conscientizar que é um ser no mundo e
não fora dele.
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