quinta-feira, 16 de julho de 2009

A NOÇÃO DE EXPERIÊNCIA

No decorrer deste capítulo apresentar-se-á a noção de experiência dando primazia ao conceito no qual John Dewey a entendia. Apontar-se-á para a importância, alcance e limites que a experiência apresentou e ainda apresenta à vida humana fazendo uma relação entre empiristas e racionalistas e apontando a contribuição que cada uma dessas correntes favoreceu para que a humanidade chegasse a esse patamar de conhecimento. E com isso surgem as interrogações: até onde se pode confiar no conhecimento obtido através da experiência? Será que ela possui um sólido fundamento ao ponto de se poder adotá-la como um guia seguro de conduta, ou ela apenas engana? Será ela auto-suficiente para o conhecimento humano, não necessitando de outras maneiras de obter conhecimento para aprimorá-la?

4.1 A EXPERIÊNCIA PARA OS ANTIGOS

Vê-se com os antigos que a noção de experiência que os mesmos possuíam anteriormente foi em si um produto da experiência. Seus métodos de aprender as coisas não eram através de grandes sistemas teóricos universais de que hoje dispusemos, mas todo conhecimento passava por primeiro pela experiência e depois de certa regularidade dos fatos, era transmitida para idéias. Seu método era o de tentativa e erro. Essa definição do método da tentativa e erro já é encontrada em Platão[1] e Aristóteles. Vale ressaltar também que toda experiência nunca se levanta acima do nível do particular, do contingente e do provável. Toda experiência é única em si mesma, e em virtude de sua freqüente ocorrência “formava-se um hábito de ação, compondo um quadro generalizado dos objetos e das situações vividas. Não mais se percebiam os objetos e as situações como particulares, mas os percebiam a partir de certas formas universais.” (PEREIRA, 2003, p. 11).
Nesse período a medicina, por exemplo, era considerada uma arte e não uma atividade que poderia ser denominada “ciência”. O desabrochar das atividades não era de maneira sistemática, universal, mas considerada única. Cada tipo de doença era tratada de maneira singular, particular, não se aplicando um conhecimento universal no tratamento de determinada doença quando algo semelhante fosse diagnosticado. Através das tentativas e erros percebiam por qual caminho deveriam (ou não) seguir – o que certamente levou muitas pessoas à morte até que os médicos conseguissem captar certa regularidade nas doenças a serem tratadas. A “ciência” utilizada pelos antigos era como se fosse “um salto no escuro”, ou uma tentativa “no chute”, não havendo uma fundamentação racional plausível para o que eles faziam.
A partir das experiências obtidas através dos médicos – como foi apontado anteriormente – e também dos artesãos[2] o empirismo moderno passou a criar um método. Os trabalhos realizados passaram a ter uma explicação de cunho racional favorecendo o aperfeiçoamento da técnica, que foram fatores indispensáveis para desenvolver o que hoje se conhece como revolução industrial. A partir dessa revolução as ciências de cunho técnico para sobreviverem passaram a desempenhar um papel sistemático na resolução dos seus problemas.
Ilustrando a situação poder-se-ia exemplificar da seguinte maneira: os primatas necessitavam adaptar-se à vida na qual levavam para que sua espécie não fosse extinta. Assim eles observavam os fenômenos da natureza e, como percebiam certa regularidade nos fatos, passavam a adotar leis. Percebiam que com as fortes tempestades algumas árvores mais frágeis eram arrancadas pelas correntezas e levadas por elas. Essas árvores flutuavam sobre os rios e eles as viam passar. Esses fenômenos ocorreram com certa freqüência e os primatas continuaram a observá-los. Com isso, certa vez um desses primatas resolveu subir nesta árvore que estava flutuando para se locomover. Percebendo assim que quando posto sob a árvore ele também não afundava, resolveu aprimorar esse tronco de árvore de modo que servisse de meio de transporte. Ao contrário, quando tentavam atravessar profundos rios sem o uso desses artefatos e sem a habilidade da natação, percebiam que não era possível e acabavam se afogando. Experimentavam que isso também não era bom para a tribo, pois a perda de um membro fazia falta à mesma, e então formulavam suas leis a partir das experiências vividas. Com o aprimoramento de troncos de árvores surgiram as primeiras embarcações que transportavam as pessoas de um lado ao outro das margens dos rios. Passado muito tempo as formas de navegação foram cada vez mais aprimoradas tanto que nos dias atuais o ser humano encontra à sua disposição navios transatlânticos que transportam uma grande quantidade de cargas e/ou mercadorias de uma única vez.
Vê-se assim como o método de análise experimental sendo antecessor da formulação de leis foi importante para os antigos e ainda é tão utilizado nas circunstâncias atuais, mas o mesmo deve apresentar um sentido universal que o caracterize. No caso do exemplo da medicina mencionado anteriormente foi visto que cada doença deve ser analisada em suas particularidades, mas ela está classificada dentro de um panorama geral, o que implica dizer que os particulares estão inseridos em um contexto universal. “O médico classificava determinados tipos de doenças a partir da regularidade dos sintomas em alguns pacientes. Generalizando os particulares, ele passava a tratar e a recomendar determinados medicamentos a todos os casos iguais.” (PEREIRA, 2003, p. 11).
[1] Platão (429 – 347 a.C.), nascido em Atenas e de família aristocrática, sendo que sua fama repousa em seus Diálogos. É marcado por afirmar um mundo dualista: matéria e espírito; e a divisão de mundos entre real e ideal.
[2] O artesanato era o trabalho predominante na Grécia antiga e através desta arte é que os artesãos garantiam o sustento para suas famílias.

Nenhum comentário: