terça-feira, 29 de março de 2011

Primeiro Testamento e as repercussões no Cântico de Maria.

Poderíamos, ainda, recordar outros inúmeros textos do Primeiro Testamento e que têm repercussão no Cântico de Maria.

Para cada versículo do hino marial-lucano podem-se encontrar cachos de referências bíblicas. E é normal, pois para todo judeu piedoso a Escritura é o livro da vida. Esse cântico mostra Maria impregnada da fé dos pais, que era, de resto, uma fé fortemente messiânico-libertadora.

Eis alguns textos:
- “[...] se vos dignardes olhar para a aflição de vossa serva, e vos lembrardes de mim; se vos esquecerdes de vossa serva [...]” (1 Sm 1,11).
- “[...] O Senhor olhou para a minha aflição...” (Gn 29,32).
- “Porque as mulheres me felicitarão [...]” (Gn 30,13).
- “A ele deves louvar: ele é o teu Deus. Ele realizou em teu favor essas coisas grandes e terríveis que os teus olhos viram” (Dt 10,21).
- “Exultarei de alegria por tua fidelidade, pois viste minha miséria e conheceste minha angústia” (Sl 30,8).
- “Liberta o pobre das mãos do prepotente e o indigente das garras do explorador” (Sl 34,10).
- “Sua bondade para com os que o temem dura para sempre” (Sl 103,17).
- “[...] dispersaste teus inimigos com braço poderoso” (Sl 89,11).
- “Ele envia libertação para seu povo, declarando sua aliança para sempre; seu nome é santo e terrível” (Sl 111,9).
- “[...] lança por terra os poderes estabelecidos” (Jó 12,19).
- “Ele abaixa a altivez do soberbo, mas socorre quem tem os olhos abaixados” (Jó 22,29).
- “Tu, Israel, meu Servo, Jacó que eu escolhi... descendente de meu amigo Abraão...” (Is 41,8-9).
- “Concederás a Jacó tua fidelidade, a Abraão tua graça, que juraste a nossos pais desde os dias de outrora” (Mq 7,20).
- “Ele engrandece as vitórias de seu rei e age com fidelidade para com seu ungido, para com Davi e sua descendência para sempre” (2 Sm 22,51).
- “Eu te cumularei de bênçãos, eu te darei uma posteridade tão numerosa quanto as estrelas do céu e quanto a areia que está na praia do mar, e tua posteridade conquistará a porta de seus inimigos. Por tua posteridade serão abençoadas todas as nações da terra, porque tu me obedeceste” (Gn 22, 17-18).
- “Eu, porém, regozijar-me-ei no Senhor. Encontrarei minha alegria no Deus de minha salvação” (Hab 3,18).
- “Todas as nações vos felicitarão...” (Mal 3,12).
- “Bendita és tu, filha, diante do Deus Altíssimo, mais que todas as mulheres que vivem sobre a terra” (Jt 13,18).
- “Ele zomba dos zombadores, mas concede sua graça aos humildes” (Pv 3,34).
- “Gloriai-vos do seu santo nome, rejubile o coração dos que procuram o Senhor” (1 Cr 16,10).
- “Aos humildes salvais; os semblantes soberbos humilhais” (2 Sm 22,28).
- “[...] Vai-se exaltar o que é baixo, e abaixar o que é elevado” (Ez 21,31).
Tendo presente estes textos do Primeiro Testamento, podemos dizer que o Magnificat é uma manifestação típica da piedade bíblica de Israel. “Quem fala no Magnificat é uma pessoa piedosa que vive na e da espiritualidade do Antigo Testamento; reza dirigindo-se a Deus com textos decorados, rezando como Cristo na Cruz, ou como nós quando rezamos de cor, recorrendo espontaneamente a versos do saltério.” A oração de Maria expressa nas palavras deste hino é de certa forma como que a síntese dos anelos e esperanças do povo de Deus e é também a síntese do louvor que o povo canta a seu Salvador. Ela é a porta-voz do povo de Israel.

Se tudo isto que Maria canta é o que Deus faz nos pobres da história, o Magnificat é e sempre será o cântico daqueles que reconhecem sua pequenez e sua miséria e sabem proclamar ‘o braço poderoso de Deus’, que ainda hoje, como Forte Salvador, continua dispersando, derrubando e esvaziando, mas também continua acolhendo os pobres, exaltando os humildes e enchendo de bens os famintos da terra. Se esta oração é assumida por Maria, isto significa que ela, a mulher, a Mãe do Senhor, personifica a oração de todo o povo; assume sua história, sua dor, sua vida inteira; e a torna canto e louvor. Em Maria, o povo todo encontra sua voz: ela o representa, o assume e o conduz a Jesus. É a voz da mulher, pobre e frágil, voz de mãe que gera e cuida, voz de evangelizadora que anuncia e proclama.

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