terça-feira, 29 de março de 2011

Cântico de Ana

Como já afirmara anteriormente este é o cântico do Primeiro Testamento que apresenta maior semelhança com o Magnificat, tanto do ponto de vista teológico como literário.

Então Ana rezou esta oração: “Meu coração se alegra com Javé, em Deus me sinto cheia de força. Agora, que eu possa responder aos meus inimigos, pois me sinto feliz com a tua salvação. Ninguém é santo como Javé, não existe rocha como o Nosso Deus. Não multipliquem palavras soberbas, nem saia arrogância da boca de vocês, porque Javé é um Deus que sabe, é ele quem pesa as ações. O arco dos fortes é quebrado, e os fracos são fortalecidos. Os saciados se empregam por comida, enquanto os famintos engordam por despojos. A mulher estéril dá à luz sete filhos, e a mãe de muitos filhos se esgota. Javé faz morrer e faz viver, faz descer ao abismo e dele subir. Javé torna pobre e torna rico, ele humilha e também levanta. Ele ergue da poeira o fraco e tira do lixo o indigente, fazendo-os sentar-se com os príncipes e herdar um trono glorioso; pois a Javé pertencem as colunas da terra, e sobre ela ele assentou o mundo. Ele guarda o passo de seus fiéis, enquanto os injustos perecem nas trevas - pois não é pela força que o homem triunfa. Javé derrota seus adversários, o Altíssimo troveja lá do céu. Javé julga os confins da terra. Ele dá força ao seu rei e aumenta o poder do seu ungido” (1 Sm 2,1-10).

É interessante que a concepção de Samuel lembra muito a de João Batista: a mãe foi estéril até o momento em que Deus agiu sobre ela, e o filho foi consagrado ao Senhor “todos os dias de sua vida”.
Nos dois cânticos, o louvor nasce de uma maternidade humanamente impossível. Suas semelhanças são inúmeras, mas poderíamos destacar que ambos têm por tema a reviravolta de destinos entre os poderosos e humildes.

No cântico de Ana e no Magnificat, a presença de Deus se manifesta não na função física de gerar filhos, mas na criação de um mundo de justiça e no fim da tirania. Ana e Maria não consideram a maternidade em termos de uma função biológica e de um papel doméstico particular. Como mães, elas reinterpretam o mundo, vendo em sua própria experiência uma afronta ao arrogante e ao poderoso, e uma reivindicação dos oprimidos, a quem Ana simbolizou como ‘a mulher estéril’ em seu cântico. O Reino de Deus é um Reino de características maternais, vislumbrando com maior precisão pelos olhos de duas mulheres que, ao se tornar mães, reconheceram a essência daquele Reino. •

As semelhanças com o Magnificat são inúmeras, evidentes e significativas. Em particular, ambos os cânticos tem por tema a reviravolta de destinos entre os poderosos e os humildes. Mas também há importantes diferenças.

No Magnificat sentimos uma atmosfera espiritual mais refinada, uma maior proximidade com o Evangelho; além disso, sentimos nele um clima de cumprimento das promessas de Deus, enquanto o Cântico de Ana denota não o cumprimento, mas o início das promessas.

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